quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Uma Grande Viagem

Rodei tanto pelo mundo...
passei por tantas brenhas
Américas, europa, ilhas caribenhas
Saí do meu mundo para o mundo
Vivi noites fabulosas
jantei em cassinos
Tive vários nirvanas
Bacanas, sacanas, sem grana.
Já viajei de trem bala
de ônibus, de avião
cruzei mares
Já perdi tantas malas...
Sempre faltava algo
Minha casa não era minha
Minha vida não era minha
E voltar nunca fazia sentido
Ficaria lá por anos
E ao retornar ouviria:
Você já chegou?
De repente toda uma procura
se tornou em vão...
E meu coração estava fatigado
Desesperançado, enevoado.
Só não sabia que o que procurava
Não estava do outro lado do mundo
Estava bem perto, na mesma cidade,
mesmo bairro, na mesma rua
no mesmo mundo...
Agora meu corpo cruza mares e países
O meu pensamento viaja mais rápido
Viaja para dentro de mim
E lá dentro só tem um lugar cativo
Um trono reservado.
Sou um escravo de novo
um escravo desse sentimento
que agora é meu único elo com o mundo
Meu mundo... Você.


E eu que não estava esperando nada
Acabei achando tudo.

sábado, 18 de dezembro de 2010

16 de dezembro

E agora? Aquilo que sonhavas chegou!
Todo um ano de preparações árduas...
Todo empenho dispendido
A vitória desponta no horizonte
E vem sob um cavalo branco!
Salta, corre, chora, ri...
E agora? Já estás preparado para
aquilo que buscavas?
Porque mais importante que buscar
é estar preparado para o que se encontra!

Veritas

Veritas... Verdades quando ditas
transpassam almas, quebram grilhões
Rompem muralhas, abalam estruturas
Criam incômodo e principalmente fazem pensar...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Um vento novo começou a soprar
Um tempo velho ficando para trás
Agora olho à frente a sonhar
com novo caminho de chão e de mar

Ah se eu ficasse parado e incrédulo
esse mesmo vento ainda iria soprar
porque não é só minha vontade que vale
a vontade do universo que vai me guiar

O mundo dá voltas incessantes
voltas que nem se pode imaginar
aguarda com calma a sua hora
porque sempre o que há de ser, será.

domingo, 26 de setembro de 2010

E se foram... eram palavras.

Havia tanto amor que tudo ficou mudo?
Havia tanto sonho que agora restou surdo?
Palavras são sempre palavras e se perdem no tempo
Juras são só juras que se esvaem pelo vento.

Aquele sussuro ao pé do ouvido era nada
Diante do tudo-nada que agora se vê
Palavras eram só palavras
Que o tempo as apagou por inteiro.

Ainda existe alguém que sussurre de verdade?
Ainda há palavras sem prazo de validade?
Bom acreditar um dia nas palavras... as pesadas
porque não são levadas pelo vento.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Passa o vento, penso o tempo, passo lento.

Passa vento na janela
Passa passo no caminho
Passa tudo em passo lento
Passa água no moinho

Penso ainda aquele dia
Penso ainda aquela hora
Penso no dia que vem vindo
Penso o caminho de outrora

Posso ouvir tua voz no vento
Posso ver seu passo no caminho
Posso esperar com passos lentos
Posso esperar por seu carinho

Só não posso passar sozinho
Só não posso esquecer o tempo
Em que tinha seu passo junto
d'onde retorna aquele vento.

O tempo. O vento. O passo lento.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Anjinhos vêm e vão

Os anjinhos faceiros que ora nos cercam
rabinhos saltitantes e beijos certos
Nariz geladinho debaixo da porta
aos pulos e gritos com perninhas serelepes

Chego em casa arrastado exausto e descrente
logo vem o bichinho à saudar rebolando
Pulando no colo e dizendo por gestos:
Papai eu te amo você me faz tão contente!

Anjinhos que nos cercam e nos enobrecem
Ensinando aos homens o amor sem medida
o prazer de estar junto sem hora sem pressa
a companhia pra sesta pra sexta e pra festa

Anjinhos serenos e talvez barulhentos
anjinhos carinhosos, nervosos e espertos
São anjinhos do peito, de coração sempre aberto
Anjinhos, sempre anjinhos, anjinhos que nos cercam

Hoje um anjinho retornou para seu lar no lindo céu
Gordinha e pretinha, tranquila e singela
A minha neguinha, tão meiga e terna
Partiste depressa, mas direto pro céu
Boninho te espera ansioso, neguinha!
Não temas e corra ao encontro feliz.

Adeus meus meninos, anjinhos que tive
eu sempre os verei nas nuvens branquinhas
Correndo e pulando como bem pequeninos
Prometo um dia nos reencontrarmos...
Aguardem atentos por minha chegada.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Uma nova estação

Amanhã, mais uma primavera...
Olho nos olhos e ainda vejo tanta coisa pendente!
Tanto sonho suspenso, tanta idéia na mente
Tanta falta de riso, tanta imagem passada
De um tempo envolvente, de um encontro cadente
Caíam estrelas, hoje caem amores
Sem força e nem garra dos seus falsos amantes
Será se o tempo é remédio dormente?
Se ele anda traquilo sem propósito e repente?
As flores esperam uma nova estação,
rosas, violetas e até o fino lírio...
Amanhã será um dia como outro qualquer
Só não será mais o mesmo, não tem mais
bem-me-quer...

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Tudo sempre tem um ponto
Ponto de partida
Ponto de parada
Ponto de chegada
Ponto de ônibus
Ponto de taxi
Ponto de exclamação
Ponto de espera
Ponto de trem
Ponto de emoção
Ponto no céu
Ponto de esperança
Ponto no chão
Ponto de alegria
Ponto de tristeza
Ponto final.

sábado, 7 de agosto de 2010

O senhor dos esquecimentos

E se o peito não apertasse tanto que
a saudade virasse mar
E se a lágrima não brotasse impetuosa
marcando sua descida árdua
Os pulsos lânguidos de exaustão e descrença
os dias foram muito maus, e as noites torpes
A esperança tece sua teia para pegar os desavisados
Aqueles que esperam por mudanças utópicas...
Assim seguem os horas, seguem os dias e agora semanas...
A resistência espera o tempo, senhor de todos os esquecimentos...
Mas enquanto não chega a hora, a vida segue seu curso d'água tortuoso.

domingo, 1 de agosto de 2010

A donzela e o dragão

Quando a luz se apaga e os olhos não mais se vêem

Quando o final chega antes mesmo do começo

Quando enfim a vida não permitiu o romance

É hora de reviver o tempo bom, sem nostalgia aparente

Há almas que nascem entrelaçadas, e outras que se entrelaçam aqui

As que já nasceram assim permanecem unidas na vida e além dela

As outras se o destino já se decidiu por elas não há o que tentar, perda de tempo

Porque mais forte que o amor, só o destino.

E o destino? Desdenha, desentranha, derrama, denigre...

Ri-se da luta sem futuro, da dor da desventura, dos desencontros

Foi assim que um dia de tarde viu sua vida passar diante os olhos

E percebeu que o destino tinha agido antes de si... e que já era tarde.

Ele agiu sorrateiramente, e deixou bem claro que mudanças não são bem vindas

Porque elas causariam dor, desenlaces, tristeza e enfim um renascer

Há quem não suporta a idéia de renascer... contrariando o fluxo normal da vida

Como um bebê a fugir do aconchego do ventre para a incerteza do mundo

Como uma lagarta deixando a pele e virando borboleta

Como o botão de rosa a transformar-se na exuberante flor.

Hoje sou cético. Não espero mais o amor dos contos de fadas...

Eles são de lá, e lá ficarão eternizados como ideário de ventura

Não tocará aquela música perfeita no momento do beijo

Nem quando num jardim de primavera andarmos de mãos dadas

Muito menos quando estivermos distraídos na rua e derrubarmos as coisas daquele ser divino! Balela! Isso já te aconteceu alguma vez? Cenas de estúdio eternizadas.

De repente o mundo se viu cheio de covardes. Não existem mais

os corajosos que matam dragão pela princesa, nem a princesa que deixa o luxo

para viver com o plebeu numa casinha no campo... Os tempos mudaram...

Ou pelo menos, essas almas valentes mudaram de planeta...

Agora, os últimos cavaleiros capazes de matar o dragão são raros... fracos, esguios.

Escrevem poesias, romances e contos... Porque já não há mais princesas

Para salvar da besta alada. Elas preferem a comodidade de sua torre, e sua chapinha quente. Porque o amor verdadeiro já virou mercadoria, e o bem estar físico essencial.

E o que dizer da paz interior... do frio na barriga... e das pernas bambas ao ver o seu grande amor?

Antidepressivos, antiácidos e tornozeleiras resolvem. Nada mais. E viva o dragão!

sábado, 17 de julho de 2010

Às loucas horas e poucos sons
Entreabro os olhos sonolentos
Vejo diante de mim meu semblante
Cores sem tons, tons sem sonetos

Corro os olhos lado a lado pra sentir
se alguém além de mim me vê inerte
Ou se o escuro nada interessa mais
àqueles que não desejam sombras

Nesses instantes mudos e calmos
Piso no freio ardente da vida
Agora posso pensar sem corida
Na arte do vivo, na vida da lida

E assim vejo o quanto sou carregado
de um lado p´ro outro da maré alta
Agora lá fora o mar está calmo
Mas há turbulência cá dentro na alma

Vou mudar tudo, e levantar-me agora
Dizer poucas boas, definir devaneio
Mas espere um pouco que a cama tá boa
Vou ficar mais aqui só mais um minut... zzzzz.

domingo, 11 de julho de 2010

De novo, à tempo

De repente algo inerte
Vem à tona num soluço
E aquele porto-seguro
Volta a ser bem mais latente

Porque quando eu precisei
Sua mão me acolheu
E eu a segurei fime e vorazmente
Você esperou com paciência

Não foi só nos dias úteis
foi num dia inútil para mim
Não foi só por promessas
Foi num ato concreto, enfim.

E naquele instante eu vi
O que procurava longe
Estava do meu lado o tempo todo
Era você, ali, insone, à minha espreita.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Outono em mim

Um dia olhei da janela
e vi muitas folhas caindo
o chão forrado de sonhos
todos eles sem rumo caindo

A janela era meus olhos
e a árvore, a minha vida
os sonhos caíram no tempo
Mas vi outros brotos surgindo.

Descabido

Foi um engano. Indubitável
Foi um relógio. Disparado
Foi um encontro. Descabido
Quase um ano. Alterado

Pensar que fosse adiante
Sonhar com sonhos pueris
Agir sem fôlego, ofegante
Só engano, sobra sorrir

O tempo falava mais alto
Os ouvidos se fechavam
Aos gritos as circunstâncias
Todos os olhos vendados

Fosse o que fosse o que tinha de ser
A força do destino tardio e certeiro
Tirara as vendas e abrira os ouvidos
Vivêramos um tempo, sem tempo, descabido.
Desalento...

domingo, 30 de maio de 2010

Epopéia

Deito em meu leito vazio
Passando por noite cigana
Que faz-me vagar sem rumo
Enquanto o corpo descansa

A alma vaga ao encalço
daquilo que nem eu sei
Mas que meu coração quer
um corpo além do meu

Um calor que seja real
Não aquele que sempre sonho
Pois o quarto parece grande
Escuro, vazio quase mortal

Quisera sonhar acordado
E com sofreguidão abraçar-te
e não acordar quando te olho
no fundo dos olhos e sorrio

Vai, resolve-te a ti mesmo
Mate o seu dragão alado
E derrube todas as muralhas
A minha força vô-la dou
Não é muita, é o que tenho

Após sua vitória heróica
Celebraremos juntos com rosas
aquelas brancas da paz
Que selará nova história
A nossa nova história

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Grão de areia

Sentado no breu da noite
sob escuro que recobre a visão
sob as horas que impiedosas se vão
Trazendo consigo um silêncio sepulcral

Ali vejo a vida passar como um filme
Onde sou o ator principal
Mas o estranho é que vejo a mim mesmo
Ou aquilo que sobrou do normal

Fecho os olhos e vejo risadas
Escuto meu corpo bailando no ar
Os sentidos estão todos confusos
Caiu tudo. Folhas secas no chão.

Quero voltar a sorrir como antes
Quero rodopiar sem pensar em parar
Ao deitar ter um sono divino
E levantar sem ter nada a pagar

Quero aquela tranquilidade eterna
E o poder de ser quem eu quero
De não mais figurar como etéreo
diante dos outros quem não sou.

O que sou? sou eu mesmo...
Sem precisar fingir pra viver
Sem precisar mentir pra ganhar
Sem precisar me vender para ter

Sem amofinamento no ser: sou no fundo a verdade
Um grão de areia na praia a singrar
Insuficiente para reter o oceano
Mas em minha pequenês me levanto
e me lanço vorazmente nas águas do mar!

O Jardim das Borboletas - Mário Quintana

Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama ou acha que ama, e que não quer nada com você, definitivamente, não é a pessoa da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar, não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

domingo, 23 de maio de 2010

Quarto vazio não incomoda
Casa vazia até faz bem
O mundo lá ao longe e quieto
Só um lugar vazio me incomoda
O coração solitário e sem noticias

Quisera que o vento dissesse
Que te vira sob as árvores
e que seu olhar ao longe no céu
Contemplava o azul mesclado
Sem as náuseas do dissabor diário

Assim depois do aviso preemente
ao galope incessante partiria deveras
pra ao longe olhar-te com a ternura
de quem beija o retrato e relembra
do amor que eternizou aquela cena

Nem precisaria tocar-te
Porque seria impossível tal proeza
Olhar-te-ia sem pressa, mas seria uma pena
Que não pudesses me ver ali diante de ti
Pois seus olhos não veriam tal como sou

Agora, cá deste lado, tudo parece mais claro
Entendo tudo o que passamos, e o porquê
Não era pra ser assim...
Agora minhas mãos não te tocam
Nem sentes meu beijo demorado

Que me resta senão esperar
E esperar que te lembres
De quando me abraçavas longamente
E dizias palavras de amor
Que agora não mais as escuto.

O anjo da ternura e paciência me proteja
Posso ir ao teu encontro de uma forma diferente
Mas teria que esquecer de tudo e partir do nada...
Então recuso a oferta, e agradeço... mas fico.
Só pra te ver um segundo a mais.

sábado, 22 de maio de 2010

Samedi

Samedi à la nuit
J'aime la lune dorée
Tu ne suis pas ici
Tu ne dites pas pour moi rien
Seulement le cri des grenouilles
Rien plus, rien pour ma coeur dans pause

Tu seulement silente, dans leurs actes statiques
Et sa vie paisible, dans son aquarium protégé
Rien fais... rien parles... rien decidés..
sans vie quelques-unes
J´adore la lune
Parce que elle parle pour moi tout ce que je veux entendre
J´aime la lune dorée

Páro um instante

Páro por um instante meu mundo corrido
Onde está o amor que procuro?
Estou passando tão rápido por essas estradas
Que nem tenho tempo de olhar além da janela
Alguém sorriu para mim? Algum aceno sincero?
Algum suspiro fundo? Alguém sem coragem?
Não sei, não deu tempo de ver tamanha a pressa
Corro para o futuro, mas lembro do passado
lembro de quando o ir adiante era um desejo incessante
um prazer desejar ser adulto, ter um trabalho seguro
Hoje, lembro dos sonhos encantadores de criança
Sonhos mil, que nem lembro de todos... tamanha a pressa.
Preciso parar esse trem, preciso respirar o ar puro
E fazer deste instante o meu presente e futuro.

sábado, 15 de maio de 2010

Só não pode parar

Sob meus dedos letras para o mundo
Sob meus olhos mais um texto pueril
Quero não só escrever, mas também remexer
Remexer nas entranhas do mundo,
revirar o que o faz retorcer,
acender o pavio molhado.
Ter a certeza que alguma coisa mudou
E as palavras não foram perdidas no ar...
Quero fazer repensar, transpirar, chorar, amar e odiar
Só não quero que seja apenas um texto
Sem significado, sem sonho, sem conteúdo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Se quiser falar com Deus

Se quero ouvir a voz de Deus, devo calar a minha voz
E escutar em meu coração as verdades que em mim gritam.
Pois de nada serve a minha autopiedade e autocompaixão
Sem deixar-me um pouco de lado e ouvir aquilo que nem sempre quero ouvir.
As palavras divinas são como lanças que cortam fundo.
E mesmo quando fingimos não ouvi-las, com o tempo, suas chagas
reabrem em nosso peito, e fazem-nos pensar sobre elas pela dor.
A melhor escolha então é não resistir. E entregar a direção a Deus,
e confiar que sua intervenção será eficiente.
Ouvir o nosso interior, mais do que ouvimos as pessoas ao nosso redor
os conselhos dos outros, as experiências de algures.
Assim, tenho esperado paz e libertação das cadeias que me prendem.
Mas principalmente entendimento, para poder compreender a voz de Deus em minha vida.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pro fé e Cia

Tuas mãos são sujas
Tuas intenções malfadadas
Olha nos olhos e mente sem pudor
E enganas quem te esperas

Falas que não fez quando fez
Juras que nunca teve quando teve
Prometes o que não podes cumprir
E ainda ri-se por dentro por enganar

Saibas que engana-te a ti mesmo
E corrói as tuas próprias entranhas
Dentro de ti há uma serpente velada
Que traçoeiramente há de morder-te o calcanhar

Tenhas pudor ao mentir
Tenhas verdade a falar
Tenhas amor aí dentro, contigo
Carregue coragem de mudar

Pois sentirás a destruição iminente
Vermes a corroer-te a alma
E deitar teu corpo sem vida
Num terreno hostil sem regresso

A chama da verdade tudo cura
E para sobrevivê-la é preciso crepitar
Renascer como fênix para um novo sol
Recomeçar novo ser: livre da corrupção.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Irmão dos minutos, filho das horas.

Esquecer é um exercício
Que deve ser arduamente treinado
Porque coisas existem que merecem ser esquecidas
Pessoas há que prescindem de serem lembradas
Em especial aquelas que se sentem donas do tempo
E chamam os minutos de irmãos e as horas de mãe
E colocam o tempo ao seu favor, preterindo os outros
dos mesmos minutos e horas.
Esquecer tem que ser minuto a minuto
Porque o esquecimento tem que ser lento para ser real
Cada dia temos que entrar nesse exercicio.
Estou em um deles, talvez o mais difícil de todos
O esquecimento de uma etapa de vida, de fatos intensos
Que não foram adiante.
Compensa esperar? ou a espera é apenas uma espera?
Questionamentos fazem parte do exercício.
Tenho muitos deles.

De noite no mato

Um pirilampo no escuro zagueia
grilos saltam de um lado para o outro
o pio da coruja torna a noite inquieta e sombria.
As folhas das palmeiras balançam como se chovesse.
No escuro tudo é mundo, tudo é incerto e cauteloso.
Qualquer ruído na palha do chão faz o coração bater acelerado e os olhos como faróis à procura de um vulto. Não sei se é melhor vê-lo ou imaginar que não foi nada.
Ao longe, em meio aos altos galhos passa uma fresta de luz da lua.
É Lua cheia. Causos existem sobre lua cheia. Vou parar de pensar neles.
Passa um morcego bem razante, tirando o pouco de tranquilidade de se andar .O barulho surdo da floresta à noite, misturado com todos os sons irreconhecíveis cria uma atmosfera bucólica e fantasmagórica...
Tenho que atravessar logo o escuro para chegar do outro lado
mas as pernas não se movem... Estou imóvel, esperando que talvez a noite acabe.
Faz pouco tempo que o sol se despediu... não tem jeito, é fugir do medo ou enfrentá-lo até o fim... Para fugir tenho que correr... para enfrentar tenho que ficar.
Que impasse, o coração saltitante não tem muita força pra decidir...
Vou pegar uma carreira e só parar quando tudo acabar...
O que pode acontecer? porque o escuro nunca é seguro?
Vai, vai, vai! árvores prenhes sussurram inoportunas.
Um bater de asas me faz sentir um frio na barriga e seca a boca!
Porque é tão difícil mover-se?
Vou contar até cinco... não não, até dez porque uso as duas mãos e ganho tempo pra
decidir se corro...
Um ladrar de cachorro ao longe, no meio da mata... que será? caçadores? ou estão no encalço de alguma fera?
Um, dois, três.... Valei-me Nossa Senhora do bom parto!
Mas não estou na hora do parto! Ah... foi a única que lembrei no momento, não tenho tempo para lembrar dos outros nomes...
Pego uma folha de figueira... se cair virada para cima eu corro...
Será que ao final daquela trilha vou chegar numa casa?
Ai meu Deus, alguma coisa está se movendo no mato...
É agora ou nunca... E se eu subir nessa árvore?
Onça também sobe... onça, tatu-peba, Saruê, chupa-cabra...
Rezo uma ave-maria... se rezar o rosário vale mais?
Um, um e meio, dois...
Que engraçado, tá mais fácil enxergar adiante...
Porque será? Penso na noiva, e até na filha da rainha Luzia...
será se ele existia mesmo ou era coisa daquela cobra doida?
Agora vejo mais longe... as vistas estão melhorando?
Não... eu acho que... acho que...
Caí de sono e tensão.
Amanheceu com raios vermelhos o céu do sertão.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

De agora em diante

Falar de quê?
Falar pra quê?
Falar por que?

Já falamos tanto
Já brigamos tanto
Já pensamos muito
E voltamos tudo

Basta só chegar
Sentar e se olhar
Nada precisa falar
nem preciso dizer
Só me interessa o agora
o agora daqui adiante.

O menino que queria ser um pássaro

Quando eu era menino eu brincava de pássaro
Corria pela casa com um lençol sobre os braços em forma de asas
Passava pelo quintal correndo em disparada, e jurava que se desse
um vento forte eu ia levantar vôo e sair pelo mundo me divertindo lá do alto...

Hoje não brinco mais de pássaro. Mas a vontade não passou...
Cresce a vontade de sair por aí pelo mundo voando, voar desse lugar inóspito que é a vida humana moderna.

Tem hora para tudo! hora para acordar, hora para trabalhar
hora para almoçar, hora para voltar para casa e hora para dormir...
Só não tem hora para voar e sentir o gozo das pequenas coisas...
Assim, hoje sou um rebelde!!! E sou diferente de todos os outros...
Porque sonho só com o vôo, e para alguns poucos momentos
trabalho, como, volto pra casa e durmo... mas volto voando.
Porque descobri uma coisa agora adulto: Sempre fui um pássaro ao vento!

domingo, 2 de maio de 2010

Velhos tempos, saudades...

Cheiro de fogão à lenha e Sabiá gorjeando no quintal
Um mormaço quente no sertão dá sono.
Há uma rede na varanda à minha espera.
Faz um barulho dos bois lá ao longe
misturando-se com o rulhar das rolinhas ciscando no quintal.
Uma casinha simples com chaminé e telhas escuras de fumaça
Tem um bule sobre a pia, e um filtro de água no canto.
Uma penumbra na casa e as janelas fechadas por causa da poeira no vento de agosto.
Na mesa de madeira rústica um oratório com a Virgem e o cheiro do café saindo do bule.
Nas paredes tortas e envelhecidas tem panelas, tudo limpinho, organizado e simples.
E quadro do Divino na parede, para lembrar da oração.
Da oração por chuva, por colheita boa... por uma vida amena.
Olho para longe, e vejo sobre a terra um trepidar do vapor
que
mais parece miragem no deserto, chão seco.
O céu azul e limpinho, sem uma nuvem, nem uma esperança de chuva.

Lá adiante galhos retorcidos com alguns espinhos
e as cascas grossas das árvores nanicas.

Sinto saudades do sertão e do dia longo,
da vida pacata e das noites de lua cheia,
do céu de mil estrelas e do breu no meu quarto.
De pensar no mundo, que terminava ali no horizonte
da vida simples do sertanejo.

Hoje vejo janelas, olho mais pro alto e vejo gente
atarefadas em suas caixinhas de fósforo.

Luzes acesas por todos os lados.
E gente conversando o tempo inteiro

O céu é longe e distante, as estrelas se apagaram pela metade.

O mundo agora começa além do horizonte, e tem muito mais gente por lá...
A cafeteira me sobressalta com sua campainha... Tempos modernos.

Velhos tempos, velhos pensamentos...
Saudades. Saudades do que nunca vivi.

Inverso

Tenho nas mãos uma pena
Sob os olhos um papel
No coração a espera
E no meu corpo o seu cheiro

Queria ter nas mãos o seu corpo
Sob os olhos seu semblante
No coração a chegada
E no meu corpo você...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Fazer seguir

É difícil fechar a porta
Quando se quer escancará-la
É difícil fechar o livro
Enquanto a história não acaba
É difícil passar a borracha
quando a escrita já está cravada
É difícil andar sorrindo
quando no peito só há choro
É difícil olhar pra frente
enquanto te pressinto atrás de mim
É difícil seguir a vida
Enquanto me engano que me amas.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Coração Andarilho

Estou farto da espera
Farto da demora
Farto da estrada
Farto de onde moro

Quero saltar desse bonde
Sair andando sem rumo
Pois os trilhos só me levam
Pr´o mesmo lugar donde vim

Agora faço meu caminho
sem pensar onde vou indo
Espero que o acaso ocorra
num palácio ou na masmorra

Tanto faz se vai ser triste
Preferível é a alegria
Mas se saio desses trilhos
Sou autêntico e irrestrito

No caminho terá curvas
retas longas e descidas
e em alguma encruzilhada
plantarei a minha vida

Estou farto da mesmice
Farto de palavras sem vida
Das que prometem e nada cumprem
Essas falas já não iludem

Só olharei ao redor
para ações silenciosas
Muito barulho nada produz
O teu caminho eu sei de cór.


Se nada novo tens a dizer
melhor seria que se calasse
Pois o bis já é nefasto
Mas novidades são bem vindas

Siga a mesma estrada de antes
se quiser ficar em círculos.
Mas não espere que a minha
orbite neste caminho infame

Pois caminho é pra caminhar
não pra ficar na estrada à margem
Dou alô e vou embora
Para os que ficam à lamentar

Levanta a cabeça e seja homem!
Venha junto corra e canse
Ficar parado parece bom
Mas o coração é navegante!




segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vento da Mudança

Olha o vento da mudança no rosto
Sopra num frio que dói
Corta os lábios e gela o peito
Corro sem casaco no frio

O vento congela meus braços
e tira a força das mãos
Minhas pernas parecem pesadas
O que desejo é só uma lareira

Agora não tem mais jeito
resta correr para ficar vivo
O frio pode até me atrasar
Mas não vai me deter

Por que tem uma força de dentro agindo
Um calor que move rumo ao infinito
Não posso ser mais como sou
O vento da mudança me consome

É correr ou morrer
Eu decidi correr.
Eu corro, e não olho para trás
Porque a mudança sempre deixa marcas

Correndo venço o frio desolador
Porque sei que ficar parado só me mata
E decididamente tenho muito a viver
Posso colocar mais lenha na lareira?

domingo, 25 de abril de 2010

De Sarah Westphal

"Pros erros, há perdão;
pros fracassos, chance;
pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você, gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Sarah Westphal

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bracelete noir

Hoje perdi alguém muito importante
Ainda lembro do teu sorriso maroto
Foi de uma vez que nos deixaste
Mas foi na hora certa de cada um
Teu rosto ficará para sempre na memória
E lembrarei de todas as vezes que ele foi sincero comigo
Lembrarei de que abracei-te bastante e com amor
E que o calor do seu peito ainda resiste em viver
Hoje perdi alguém muito importante
Eu mesmo ajudei a levar até seu leito
Olhei bem para guardar o local lindo que escolhi para
te deixar, para que nunca pudesse me esquecer dele
Teu tênis e tuas fotos foram junto, e a souvenir também
E hoje o meu peito chora, tal a dor de tê-lo perdido cedo demais
Lembrarei para sempre dos bons momentos e das gargalhadas
Das correrias do dia a dia que vivenciamos juntos
Dos perigos que também passamos...
Sentirei saudades de tudo.
E quando a saudade apertar muito, levar-te-ei flores
E sentarei ali mesmo, na grama, pra sentir-me ao teu lado.
Como fazíamos antigamente...
Adeus querido, sentirei tua falta. Lembrarei sempre de ti.
(...)
Hoje perdi alguém realmente muito importante.

Momento

Quando duas almas se encontram
E se veem apaixonadas
Pode o mundo cair em mil pedaços
Ou um furacão destruir tudo
Mesmo que elas se separem

e o destino as coloque em caminhos absurdamente opostos
Mesmo que elas nunca mais se vejam
E dessa forma tudo ocorrendo, ainda assim elas jamais serão as mesmas...
Pois só bastou um olhar e um toque
Para uni-las para todo o sempre. . .

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Porta retrato do tempo

Hoje não quero desculpas
Nem justificativas incertas
Quero da vida o sumo do sumo
Quero sorrir para o vento

Hoje não quero cair em ciladas
de palavras doces e imperfeitas
das que jamais se concretizam
Tampouco se realizam no tempo

Hoje quero apenas a verdade
dita por boca sincera
Pois há verdades que cortam
matam mentiras por intento

Quero um amor de verdade
Sem poréns quem-sabe ou talvezes
Sem limitações temporais
num enlace de fatos intensos

Quero que tomes partido
que me descanse o peito sofrido
ferido a face e o espírito
Por tuas incertezas no tempo.

Gira o relógio do tempo
Rodam moinhos ao vento
Correm riachos sedentos
Porque `inda lanças pérolas ao vento?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

espera, Espera!

A Espera me encara
Eu olho nos olhos dela
Ela sorri sarcástica
E diz:
_Só quando eu quiser!
Eu olho novamente
Ela continua imóvel
Somos parte um do outro
Então eu digo:
_Só se eu permitir!!!

sábado, 17 de abril de 2010

Passez, passez, mais retournez pour moi

Não temo a morte, ela é esperada
Temo a falta de amor por falta de sorte
Tudo é passageiro, menos ele
Amor durante e após a vida

Uma vida é tão pequena no universo
Um carinho tão efêmero que te peço
Um calor ao meu lado na tarde ardente
À noite, enternecido, um frio desolador

Já não sei o que se passa cá dentro
A espera faz-me apático, sangrento
Que tem mais a vida à mostrar
Porque não se mostra rápido, logo, já!

A mesmice da janela até me dói
Vejo gente formiguinha caminhando
Corre corre dia todo no labor e dorme
N'outro dia mesma coisa sempre morre

Passa carro, passa gente, passa vida
passa filho, passa escola, passa igreja
Passa fome, passa sede, passa dor
Passa o passo, passa tudo, passa menos meu amor

Aujourd'hui je attendre pour toi
Aujourd'hui tu retournes pour moi?
Vous regardez pour ma lune dans la nuit
Ohmm ma petit, quand vous tournerez por moi?

sábado, 10 de abril de 2010

Anti teses

Foi preciso sumir
Para me encontrar
Foi preciso dormir
Para um dia acordar
Foi preciso morrer
Para renascer minha coragem
Foi preciso chorar
para poder aprender rir
Foi preciso correr tanto
para descansar e olhar em volta
Foi preciso perder tudo
para ver tudo o que tinha
Foi preciso o silêncio e o recolhimento
Para ouvir minha voz interior e reviver
Foi preciso ir para bem longe de ti, no outro mundo
Para saber que nunca mais quero te deixar...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Espelho

Mundo que desdobra no reflexo
vidas que passeiam do outro lado
vejo o fundo dos meus olhos e congelo
no espelho vejo o mundo mais perplexo

Tua imagem me parece sorridente
Mas os teus olhos me refletem outro ser
Mil palavras nem sequer traduziriam
coração, mente e queda na areia do deserto

Quarentena, pés doídos, boca seca
Maus pensamentos se excretam com fluência
Mas ordeno Ser das trevas que me deixes
Nada podes contra mim, pseudo ser

O mundo do outro lado é inocente
tem limites com moldura definida
Olho dentro, lá no fundo do espelho
e o que vejo atrás de mim é diferente

O mundo não é o mesmo no espelho
Dentro dele só é visto o que queremos
aqui fora não queremos o que se mostra
Porque dói a realidade descarada

Por isso olho tudo no espelho
Toda a Terra no quadrado da moldura
Olho a pele, vestimentas e o cabelo
Só não vejo mais visíveis pensamentos

O espelho no espelho te reflete mais mil vezes
Multiplica tua vida tua boca teus receios
Põe à mostra aquele quadro no quadrado da tua vida
Se quiseres muda tudo, e vê o novo no espelho

domingo, 4 de abril de 2010

Lá fora a chuva

Gosto de ver a chuva que cai
Sentir o cheirinho da terra molhada
Olhar o horizonte cinzento da chuva
A inevoar a paisagem ao longe

Venho da terra onde a chuva é escassa
Lá, quando chove, muitos vão à janela
Pra ver os pingos fazerem suas ondas
No chão ressequido agora encharcado

A chuva não lava somente as folhas
Ela cai do céu para nutrir a vida
Lava a angústia de dentro do peito
E limpa a dor de não ter-te comigo

Tu disseste: quero ter paz!
Eu nunca ouvi um pedido assim
Mas se sou turbulência aceite as escusas
Lá fora a chuva te lave de mim

Hei de permanecer olhando a chuva
E a gota que escorre lenta no vitral
Gotas que traça seu caminho no vidro
Tem menos encanto que uma lágrima final

Aceite a chuva lavar sua vida
Ela desce de Deus por presente de amor
Molhando a terra e fazendo brotar
A semente ansiosa por germinar

Agora lá fora a chuva é fininha
Já está acabando daqui a pouquinho
Ficarei na janela e na face a brisa
Quem sabe você abra a porta e nada diga
Mas me abrace lavado pela chuva fria.

PROCISSÃO

É sexta feira santa, o povo caminha com os cânticos lúgubres e tristes. No rosto das pessoas vejo uma fé quase que inacreditável. Mulheres sofridas se condescendem com a figura de Maria a acompanhar o seu filho no trajeto da cruz. Cada parada uma meditação da via-cruxis, pessoas chorando e relembrando aqueles momentos tristes, que se misturam também com a tristeza de suas vidas. Não há como separar o imaginário recordatório de suas próprias dores da vida. Aqui e acolá algumas mocinhas com sorriso disfarçado no rosto olham inquietas para os lados como se estivessem à espera de alguém. Homens mais velhos carregam fincos fundos e bem marcados, nos traços do rosto, o sofrimento do sertanejo recém-chegado à cidade, suas mão calejadas seguram estandardes e carregam por horas a fio, pois são bem mais amenas que as enxadas que neste dia ficaram paradas.

O calor arrebatador do sol nos ombros e os olhos quase fechados pela claridade da luz não parece em nada modificar a caminhada daquela gente. Sobem ladeiras por ruas estreitas, irresolutos, a fé em Deus e em dias melhores não dão lugar ao esmorecimento causado pelo cansaço.

Senhoras com terços na mão balbuciam preces quase imperceptíveis durante a caminhada, e até duvido que estejam com plena consciência do que falam. Mais parecem um mantra repetido várias vezes sem nenhuma atenção.

Sigo com eles, e a caminhada faz pensar sobre minha vida. Nas quedas do Cristo, vejo minhas quedas também neste mundo. E a cada “estação” paro um pouco com o meu espírito crítico já solidificado pelos questionamentos próprios.

A Procissão tem um ar mágico, onde cada um carrega a sua cruz de tristezas e vicissitudes para deixa-las aos pés da verdadeira cruz no momento em que o Cristo entrega a sua vida ao Pai Celestial. E assim entregamos nas mãos de Deus tudo aquilo que não temos forças para mudar, assim como não teve o filho de Maria a intenção de muda-las. Pois bem podia, já que era o filho de Deus, mas quis mostrar para o mundo a confiança suprema na vontade do Pai.

Deixo agora o raciocínio lógico para entrar num campo pouco explicável por fenômenos físicos. A fé. Palavra tão pequena mas de um significado que ultrapassa toda a compreensão humana. A fé inabalável que fez mover montanhas, a fé que fez abrir o mar vermelho em dois, a fé de Daniel na cova dos Leões, sem medo e sem arranhões, a fé de Jó após todo o mar de flagelos que pousou em sua vida, a fé de Maria aos pés da cruz, digna e de pé, ao ver morrer aquele filho a quem tanto amou e que presenciou tantos prodígios.

Na procissão, a figura de Maria me comove. Imagino o pobre coração de uma mãe ao ver dilacerada a figura do filho, sentia com ele as dores das quedas e das chibatadas, da coroa de espinhos, mas mantinha-se de pé. Quando tudo confabulava contra sua fé, ela esperava em Deus o alívio de suas dores. E pensava na dor física, mas pouco sabia que os homens iriam matar o corpo humano que personificava o filho de Deus, mas não teriam forças nem competência para matar o espírito. Esse só deixa se corromper pela vontade própria. Mas o Cristo era convicto de sua missão. Não foi corrompido pelos maus pensamentos corporificados pelas ações vis tão comuns em nossos momentos terrestres. Naquele momento deixando o corpo humano, o espírito foi de encontro ao Pai. E Deus na sua infinita misericórdia, ainda antes de segurar a mão do seu filho atendeu mais um pedido dele, quando entregou Maria para ser a mãe dos homens. “Eis aí o teu filho, filho, eis aí tua mãe”. E ela cumpriu a missão, e ainda cumpre até hoje.

Continuo a caminhada, ela cansa, faz suar. Mas acima de tudo faz refletir. E aqueles que conseguem entender esse significado todos os anos têm a oportunidade de deixarem para trás mais um rol de maus sentimentos e tentar fazer-se mais justo e santo. Se queremos ter a paz de espírito que tanto sonhamos precisamos abrir mão de muitas coisas, de comportamentos de apego à coisas que não nos edificam em nada. Abrir mão do medo de sermos justos e verdadeiros perante o próximo e perante Deus. Ter medo de causar sofrimento não justifica sermos impiedosos com o outro, ainda mais quando esse outro nos é importante.

Na caminhada terrestre, como no caminho do calvário, temos quedas, mas precisamos saber levantar com dignidade. Ter atos de bravura espiritual, por mais que essa bravura reflita em nossa vida física. Um homem pode até conseguir dormir por algum tempo quando age com desrespeito e desamor ao próximo. Mas não tem um sono tranqüilo. E mais cedo ou mais tarde esse comportamento irá corroer-lhe as entranhas. Porque carregamos o gérmen da justiça e da verdade, pois somos filhos de Deus, à sua imagem e semelhança. E Deus é justo e desprovido de mentiras e falsidades.

Na caminhada da procissão torcemos para que o Cristo se levante, mesmo sabendo qual é o fim da história, ainda assim nos resta no fundo um desejo de um final mais ameno, e porque não mais feliz para a nossa concepção de homem moderno. Entretanto, esquecemos da nossa própria crucificação aos maus comportamentos. Do nosso apego inconsciente à mentira. Às nossas justificativas falsas pelo nosso comportamento. Enganamos para evitar o sofrimento do outro. Somos falsos e justificamos baseados em situações injustificáveis. Ser justo com o outro depende de sabermos ser justos com nós mesmos. É aí que entra a grande chave da nossa libertação. O amor ao próximo e a verdade.

Na meio do povo penso em várias coisas, e caminhada me faz bem. O sofrimento físico dos pés cansados, a roupa pregada ao corpo pelo suor, o andar ziguezaqueante a relembrança da história de Jesus, me enchem de coragem e determinação para algumas mudanças.

Acho que agora entendo o significado dessa maratona anual. O sofrimento leva a redenção. Passar por entre as ruas e becos apertados faz menção aos momentos difíceis e que nos apertam pelos lados. Subidas e descidas são a nossa caminhada espiritual rumo à eternidade. As quedas são as provações, mas levantar-se é o ato mais digno e importante. Levantar de nossas mentiras, levantar de nossa falta de amor ao próximo, levantar de nosso egoísmo capaz de permitir fazer do outro uma mera peça em nossa vida, sem significado nem valor. Levantar e deixar por terra as falsidades. Levantar e ter o propósito de não mais cair por falta de coragem de se fazer o que é justo.

A falta de respeito e de amor ao próximo faz sermos menos dignos na caminhada. É por isso que nos angustiamos e nos sentimos fracos. A força está no amor e na verdade. É preciso saber dizer não quando necessário. É preciso saber dizer sim quando chegar o momento certo. E o momento certo, para corrigirmos o que está errado em nossas vidas não está por vir. Já está no nosso presente. É agora. Deixar para depois é esquivar-se de nossa responsabilidade como filhos de Deus. Jesus não se esquivou escondendo daqueles que o perseguiam. Encarou a verdade. E foi libertado após o sofrimento. A verdade liberta. E traz a paz que é bálsamo para nossa vida...

É por isso que existe a procissão. Acima de uma demonstração de tradições populares, fazer-se parte dela significa caminhar rumo ao Pai, como fez o Cristo. Agora, entendo esse aglomerado de gente. Todos esperançosos e recorrentes à misericórdia divina para ter coragem de mudar suas vidas...

terça-feira, 30 de março de 2010

Psiiiiiii Requiem

"Há um tempo para falar e um tempo para calar"
(...)
Calo-me agora porque já é chegada a hora.
Recolho-me em minha ostra para de lá ver o mundo
Não o mundo de fora, mas o de dentro.
Calo-me para escutar o meu coração, que já
nem sabe mais como é bater descompassado, anda titubeante...
Calo-me hoje, porque já não importa falar.
Calo-me e fecho os meus olhos
para novamente abri-los quando sentir
o perfume dos lírios, num campo imenso de
flores. Vou andar por entre eles.
Calo-me, porque já não sobrou mais nada pra falar.
Calo-me e deixo somente a herança das falas escritas.
Não valem tanto assim, é o que tenho.
Doravante, calo-me.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Um sonho, uma pequena oração

Sonho com o dia em que as pessoas não mais terão medo de exprimirem o que sentem pelo simples fato de se acovardarem com medo de sofrerem represálias.

Sonho com o dia em que a falta de amor não mais será empecilho para que as pessoas realmente saiam em busca do tempo perdido e encontrem um grande amor, que as faça completamente felizes.

Sonho com o dia em que as pessoas não se sintam as mais importantes do mundo o suficiente para que julguem que os sentimentos do outro sejam menos importantes que o seu e que por isso devam se submeter a todo tipo de circunstâncias e adversidades.

Sonho com o tempo em o homem não aproveite de outro pelo simples fato de que o outro dependa emocionalmente ou financeiramente dele, e que portanto tenha que se expor com submissão servil para merecer o respeito e a atenção de quem se ama.

Sonho com o dia em que a mentira seja apenas uma lembrança dos maus dias do homem sobre a Terra, e que a verdade permeie as relações entre todos, independente se ela vai ser fácil de ser ouvida ou não, difícil de ser digerida ou de fácil aceitação.

Sonho com o dia em que ninguém aproveite da fraqueza do outro e tampouco julgue que seus objetivos de vida justifiquem todo o desdém e a falta de responsabilidade pelo bem estar dos demais, criando uma falsa idéia de segurança e de relacionamento inexistentes.

Sonho com o tempo em que as pessoas serão responsáveis pelas outras pessoas que cativaram, e que criaram laços de sentimento fortes, tão fortes que se sintam incapazes de ferir por falta de amor ou respeito.

Sonho com o dia em que os interesses pessoais não se sobreponham às relações interpessoais, e que ninguém se torne um trampolim para que outro consiga os seus objetivos escusos, a custa de enganações e malentendidos.

Sonho com pessoas de verdade, que vivam de verdade, sem medo de que suas escolhas possam mudar drasticamente as suas vidas, pois o mundo gira sem parar e nunca um segundo será igual ao outro, e para que sejam sempre melhores que os minutos passados só depende de nós fazermos deles os melhores instantes de nossas vidas.

Sonho com um riso sincero, sem duplas intenções, sem falsidades ou pensamentos levianos de autopreservação ou egoísmo. E que o sorriso por elas emitido, seja um reflexo de suas almas vibrantes e cheias de amor para repassar ao outro.

Sonho com o dia em que os falsos amigos se tornem amigos de verdade, e não dêem conselhos ruins baseando-se em sua falta de caráter para assumir a verdade e o amor ao próximo, sem persuadir a ninguém a agir com a irresponsabilidade com que agem.

Sonho com pessoas livres, de todos os maus comportamentos egoístas de levar vantagem em tudo e sobre todos, para conseguirem conquistar seus objetivos.

Sonho com homens lutadores, que consigam tudo pelo seu próprio esforço, sem escorar no outro para se apoiarem sobre aquilo que não merecem ter e que lhes é oferecido como paga por outros que, mesmo cientes de sua insignificância quanto àquele, aceitam a falsidade por falta de amor próprio.

Sonho com homens de verdade. À semelhança de Deus. Incapazes de enganar, de roubar, de tirar a vida e alegria do outro por interesse próprio. Homens justos, verdadeiros, cujas bocas profiram somente aquilo que o coração e a consciência lhes imputam. Sonho com homens amando os outros e sendo sinceros com os sentimentos dos demais.

Sonho com tudo isso... e rogo à Deus, que neste momento, mais um homem esteja sendo edificado na virtude da verdade da sinceridade e do amor. Que neste instante este homem esteja tirando a sua máscara de sobrevivência e aceitando em seu coração que só pelo amor o mundo pode se transformar em um lugar melhor para todos.

Deus o proteja e lhe guarde, repouse sobre ti a sua misericórdia e habite o seu coração. E seja de agora em diante o cicerone da barca de sua vida a singrar neste mundo de impiedades e inverdades.

Que assim seja.

Amém.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ninho desfeito

Voltou finalmente ao ninho
depois de mais um dia voando
voltou, porque só aprendeu esse caminho
Ele foi como um refúgio, uma fortaleza
Mas se tornou pequeno e inviável

Um ninho é seguro, mas tem validade
Implacável, o tempo se encarrega de desfazê-lo
A chuva e o sol desfazem suas fibras
De aconchegante e seguro se torna perigoso
Ficar nele já mudou o sentido.

Há pássaros que percebem o perigo
Voam para longe e refazem suas vidas
Outros persistem correndo o risco
Um vento qualquer o derruba
Um vento fraco, nem precisa de tufão

O relutante agarrado ao ninho
vê-se caído em meio aos farrapos
Só as lembranças restaram vivas.
Aquele ninho teve seu prazo.
Abrigou e protegeu, mas não resistiu.
Porque seus moradores não o manuteniram
Apenas ficaram esperando o fim.
Quietinhos, lado a lado, mas longe.
Nunca reconstruíram, porque era impossível.
Só esperaram cair.

Ordem e Desordem

Foi o destino ou quem sabe lá o que foi
que desarrumou o que estava arrumado
mexeu nas gavetas e deixou tudo revirado
O pior é que não deixou vestígios, saiu de fininho

Quando tudo estava andando na sua monotonia
e o dia-a-dia enfadonho seguia seu próprio trajeto
Apareceu não sei de onde essa figura desordeira
e jogou os papéis no chão, fazendo uma bagunça.

E tinha o prazer nos olhos em ver tudo por si modificado
Xiiiii... mas as coisas mudaram!
E quando percebeu que não mais estava sozinho na
dança, desorientou-se. Sua especialidade era desorganizar
E viu que a regra estava invertida, a ordem agora nao tinha mais nexo.

O que estaria acontecendo? pensou. Agora sou tão comum, mais um
desordeiro? Não sou mais exclusivo? Não causo mais impacto? Que marasmo!
E desde então ficou em crise de consciência, e pra tentar ser diferente
Criou métodos de organização, e mudou seu lema para: Ordem e Progresso.
Agora anda até sem tempo... Ha ha ha!!! Perdeu seu senso de humor?
Coitado... está atolado, e os outros jogam suas folhas no chão, reviram suas gavetas e tiram tudo da ordem, mudou tudo de lugar!
E agora José?

Meu som

La fora ouve-se o mundo. O mundo e seu silêncio barulhento. Carros ao longe zumbem, crianças gritam lá no fundo, um barulho no andar debaixo acusa o movimento de gente. Toca uma música num rádio ao longe, e na construção ao lado o barulho das montagens de andaimes.
Um bem-te-vi grita se mostrando, e o barulho do peito também se imposta.
Penso naqueles que ouvem o nada. Tenho um amigo que nunca ouviu isso.
Os sons. Sons de máquinas, de fábricas, de gente, de bicho. Sons, sons que encantam, sons que irritam. Depende de quem os ouve. Alguem já me reclamou da 9a. de Beethoven, mas ouvia Mc-sei- lá.
Um mundo sem sons é sem graça. Até quando estou no silêncio externo o som interno está há mil por hora. Gosto dos sons. Eles me acalentam, são agradáveis, são amigos.
Propagam a uma velocidade incrível, nem bem se reproduzem e já estão lá dentro de nós, repercutindo, fazendo vibrar as nossas moléculas e dando aquela sensação única e prazerosa de bem estar espiritual.
Escolhi a música como profissão. E viver dela não é um trabalho árduo, é fascinante. Todos deveriam ter o fascínio em fazer aquilo que escolheram para si, e se não foi escolhido por vontade própria, está tudo errado. Puxe urgentemente a cordinha de sinal do ônibus da vida, pare e desça. Isso mesmo, desça porque persistir só levará para um caminho mais distante daquele lugar onde se quer chegar.
O som me encanta. Sons da natureza e sons do cotidiano. Fico horas ouvindo aquele barulho silencioso das cidades à noite. Quando vou para fora dela, no meio da natureza bruta, tenho a impressão de que estou surdo, tal é o silêncio dali. Escutamos o tempo inteiro. Mas nem sempre ouvimos. Ouvir é escutar e compreender, impor-se e integrar-se àquilo ouvido.
Tem muita gente que escuta e não ouve. Tem gente que nem consegue ouvir a si mesmo, e seus desejos mais íntimos. Esse é o som da alma. Ouvir este som é dar um salto para a felicidade.
Tenho o som de músicas e de palavras em minha mente. Foi ouvindo-o que deixei fluir por meus dedos a melodia irriquieta de minh' alma.
Quero ouvir muito mais, sons de vozes macias dizendo sobre os bons sentimentos, sobre a alegria, a ternura e a simplicidade da vida. Sim... a vida é simples, quando ouvimos a nós mesmos e deixamos de ouvir os conselhos do mundo. O que é correto para o mundo, nem sempre nos traz tanta felicidade quanto ouvir o nosso sonho/som interior.
É por isso que amo o som. Porque tenho a chance de ser eu mesmo quando todos são apenas uma massa una a tocar uma nota só.
Como uma branda onda a rulhar nas águas
e quebrar na praia
Como uma brisa fresca que vai
sumindo nas folhas verdes
Como uma nuvem branca a se
esmaecer no infinito azul
Como uma gota de chuva a se
desfazer num mar imenso
Como a fina areia a singrar no vento
desmontando as dunas
Como a lua cheia no horizonte púrpuro
do raiar do dia
Como avistar ao longe os belos vales
no aglomerado de montanhas
Como o olhar distante de um
velhinho tranquilo sentado na praça
Como a flor que viceja, perfuma
e se despetala com o passar do tempo
Assim também se comporta o amor
quando não é regado. Quando não é
cuidado. Cuidado. Amor, cuidado.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Hoje senti você em meu peito
fora e dentro dele
fora estava tão colado que parecia dentro
Dentro parecia que queria pular para fora
Hoje senti você em meus braços
E meus braços seguravam tão fortemente
tentando reter-lhe ali para sempre, naquele momento
E afagava suas temporas ternas
Hoje senti você em meus lábios, doce e quente
E sua língua sugando do meu nectar
Como um colibri que pousa de flor em flor
Hoje senti o seu peso
Estava sobre mim, inundando-me
transbordando de desejos
ardentes desejos derramando por mim
Hoje senti sua vontade em me possuir
e vi suas mãos passeando por todo o meu corpo
seguravam-me com veemência para que
eu não fugisse das suas investidas
Hoje pude sentir que das suas entranhas
corria quente e pulsante a seiva que nutre
todos os seus sonhos e desejos.
Hoje a noite, só faltou a lua e as estrelas
para que pudesse ter sido perfeito o reencontro
de duas almas predestinadas à eternidade juntas.
Hoje pude sentir você!

domingo, 21 de março de 2010

O novo, de novo.

Às vezes chega um momento da vida em que passamos a ter novos desejos e perspectivas bastante diferentes de quando éramos mais novos. Muitas coisas mudam com o tempo. Muitos sonhos são deixados para trás, não porque desistimos deles, mas porque eles deixaram de ter sentido concreto para o nosso momento atual.

Aquela vontade incontrolável de conquistar o mundo vai dando lugar a um outro desejo, o de conquistar o mundo dentro de si mesmo. As epopéias sonhadas vão dando espaço para as lutas internas e o anseio de vencê-las por batalhas brancas, sem sangue, sem pena, sem dor...
Acontecem de repente novos sentimentos. As paixões avassaladoras vão dando lugar a um sentimento tranquilo de cumplicidade e tranquilidade. E a tranquilidade faz aquietar o coração numa inércia quase eterna. Mas nem sempre a inércia segue suas leis físicas, e de quando em vez novas sensações brotam do peito como um vulcão adormecido, e assim explodem laçando de suas entranhas toda sua força transformadora e arrebatadora.

E a vida é assim mesmo.... quando menos se espera aparece uma nova oportunidade, um novo emprego, uma nova casa, um novo carro, uma nova esperança, um novo amor...

É que a coisa fica feia. Não porque é feio amar, mas porque o amor, quando acontece, faz tudo mudar de cor, como uma tela rabiscada de um pintor que aos poucos toma forma as cores transformam o todo numa deslumbrante aquarela de luz e tons.

E aí, o que fazer então? Estávamos destreinados a viver as emoções intensas da adolescência... e agora é uma novidade atrás da outra, sem nem dar tempo pra respirar.

Ouvi um dia alguém dizer que as paixões adultas são muito mais ricas em sentimentos que as pueris. Isso se justifica, em parte, porque a cada ano que passa carregamos conosco uma plêiade maior de sentimentos que se nos cristalizam lapidados por nossas dores e vivências, decepções e conquistas. Assim o amor torna-se maduro, e exige comportamento de pessoas maduras, conscientes de que o momento de intemperança e inconstância já não mais são condizentes com a nova época.

Mas isso não quer dizer que nunca se possa aceitar o novo com a responsável e devida cautela. Viver o novo traz para nós uma inigualável oportunidade de crescimento pessoal, e, refletir qual o melhor caminho a seguir só depende de nós. Se somos covardes, paramos no ponto que nos parece mais seguro. Se somos homens bravios continuamos a andar por esta nova trilha e ver onde ela vai dar. A surpresa da chegada geralmente vale todo o trajeto. E se chegando ao final não for como se esperava, é porque esquecemos de olhar durante a caminhada as pistas do destino para a nossa edificação e engrandecimento.

Quero dizer com isso que mais vale tentar o novo que viver do velho, remoendo com o tempo o pensamento de como tudo teria ocorrido se tivéssemos tido a coragem de ter pegado a estrada e seguido.

As coisas nunca acontecem por acaso em nossa vida, novidades surgem de onde menos esperamos, amores surgem de uma maneira mais inusitada, a vida pode dar uma guinada completa. Esses são os sinais que alertam que devemos deixar nossas crenças e medos e seguir a nova estrada, certos de que toda nossa experiência irá nos guiar para que cheguemos ao final com os braços repletos de flores - os bons sentimentos - colhidos no caminhar.

A vida tem várias formas de se mostrar a nós. Todo dia brota uma oportunidade de crescimento. Todo dia deixamos escapar de nossas mãos uma infinidade de coisas por medo de seguir no novo caminho. O caminho que poderia ser aquele que estamos procurando a tempos e que nunca conseguimos dar um novo passo porque as conquistas que tivemos no caminho anterior se mostram mais cômodas, mais seguras, e não importa se tudo não está do jeito que nos deixa feliz. Entretanto, se não alçarmos à caminhada, seremos corroídos para sempre pela ferrugem em nossa consciência, de termos ficado parados quando o caminho nos chamava a segui-lo.

Tenho vivido novas oportunidades, tenho sofrido e chorado, tenho sorrido e ficado extasiado com o novo... Tenho vencido a batalha da inércia, tenho persistido, tenho me empenhado a não viver com os "se`s" que teimam em querer me fazer parar. Estou de peito aberto pra vencer o lobo do medo e da incerteza. Sei que posso ao final não encontrar tudo o que procuro, mas terei ao menos tentado, sem me assentar na beira do caminho e chorar as mágoas e ressentimentos da vida que já passou.

A vida é um rio, que segue sempre o seu curso sem jamais voltar, ficar preso aos pensamentos do passado é ir contra o fluxo, uma hora vamos nos cansar e acabar morrendo afogados por nossas próprias mãos e imprudências. Segue o rio abaixo, observe as curvas, desvie das pedras, veja o céu azul e imenso sobre sua cabeça, cada queda d'água é diferente e dá impulso pra continuar, desce o rio, e vai aprendendo... Mas nunca pare. Porque senão nunca chegará a lugar algum.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Um Momento de mim

Quero um momento pra pensar no à toa!
Um segundo só pra mim e meus pensamentos
Quero passar uma noite olhando a lua
E vê-la quase se encontrando com o sol
Quero um instante de intenso silêncio
Quero fugir de mim e minha influência
E escutar o coração clamando por algo novo!

terça-feira, 16 de março de 2010

Teu gosto, teu rosto, tua pele
Teu cheiro, tua boca, teus braços
Teus olhos, teu sorriso, teu afago
Tudo que não mais me sai do pensamento

Hei de um dia provar-te para sempre
Hei de ser não mais um, mas o único
Hei de dormir e acordar contigo
Tudo, o que juntos pudermos fazer

Quero ouvir um sussuro
Quero sentir os seus pelos
Quero beijar-te no escuro
E casar-me contigo no inverno

E numa casinha pequena
Na beira de um rio sereno
Viver longos anos contigo
E habitar seu espírito inteiro

Em noites de frio aos pés da lareira
beber do teu corpo, sedento, quente
Até que o amor me aqueça
E me tire desse ócio ardente

Deveras poderia me ter
mas ter-me indica solver-te
De todos os seus pecados insanos
e de toda a sua vida serena

O teu corpo, teu cheiro, teus pelos
Tudo o que me resta na mente
Tudo o que em mim pude reter
Só vagos pensamentos de inverno
E mais uma manhã, cá a esperar-te!

domingo, 14 de março de 2010

Desejos e Devaneios

Vejo o céu com suas estrelas
Nenhuma delas passeia à sós
Brincam sempre duas a duas
E encontro-me atado aos nós
Estou perdido no novelo da vida
Que me pregou a maior das peças
Não sou eu que te vejo adormecer
E sentir o suspiro paciente do seu corpo
Não sinto o calor de seu cheiro doce
Não provo sabor do seus beijos antes de dormir
Quero-te, mas não posso
Querer-te mais que a mim mesmo é uma tortura
Com certeza alguém lá de cima ri
Porque fez cruzar dois caminhos comprometidos
Com qual objetivo?
Apenas diversão... os anjos gostam de brincar!
Anjos não amam como homens
E não sabem como suas traquinagens são sérias
Quero-te, mas não posso
Porque tu não me escolheste
Ao menos não para esta vida
Talvez só poucas horas dela

Quero-te mas não posso
É anular-me aceitar tua proposta
Ela é indecente, indecorosa
Uma estrela não pode se apagar no céu
Porque então não seria mais estrela
Não seria luz, seria como a treva que cobre seu pensamento.
Só serei estrela, trevas já existem muitas
E tu provaste disso, estavas no escuro quando te encontrei
Agora que provaste da luz te esqueceste que ficar no escuro dói

Não deixarei de ser estrela, só mudarei de posto
Vou riscar o céu e ser o desejo de quem me vir
Vou cair em braços livres
Onde tem abraço verdadeiro e um beijo demorado
E então serei acolhido por todo o nosso sempre
E me verei refletido naqueles olhos marejados de amor
E só lágrimas de felicidade rolarão por onde hoje percorrem estas infelizes
Esquecerei que um dia tu tenhas tentado apagar a luz de uma estrela do céu
Porque nenhum ser humano tem este dom

Quero-te
Mas quero-te livre
E tu ainda estás com correntes no teu passado
Mas o passado é só lembrança! E o teu presente
é um céu infinito, mas sem estrelas, vazio.











sábado, 13 de março de 2010

Frases ditas sem pensar
Ferem mais que espadas
Frases ditas sem pensar
Queimam mais que brasa
Frases ditas sem pensar
Destroem sonhos e amores
Frases ditas pra magoar
Magoam, mas nos magoam muito mais
Frases definem vidas
Frases mudam caminhos
Frases mudam direções
Frases decepcionam
Frases ditas sem pensar
Minguam o amor por ti
Suas frases são definidoras.
Suas frases refletem suas intenções
e suas intenções são espúrias
Não caibo nelas, nem em suas
Frases.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Depois que a porta se fecha

Lavo-me ansiosa por ter-me dado a um cafajeste. Ele apenas me usou por um momento, pagou as contas e foi embora. Pegou suas coisas e voltou para casa.

Todo dia vejo vários cafajestes. Todos os dias os vejo em minha cama. Todos contam histórias sempre iguais de uma vida conjugal enfadonha

O que seria deles se não houvesse um escape? O que seria de seus casamentos se não fosse minha cama? É lá que realizam tudo o que nunca têm em casa. Tem alguns que já conheço por nome e sobrenome.

Profissionalismo, satisfação: ou o seu dinheiro de volta! Sem envolvimento sentimental, ou pelo menos era o que se pretendia. Mas as coisas mudam, e de repente, olham-se diferente algum dia. Sussuram ao ouvido frases que enganam até os corações mais experientes e incrédulos.

Lavo-me dos falsos sonhos, limpo-me dos enganos. Enxáguo minha mente, porque não compensa tentar entendê-los. Deve ser por medo, covardia, conveniência. Dizem-se homens e até batem no peito, mas nunca são homens de verdade.

Ser homem é difícil hoje em dia. Vejo vários ratos com dinheiro. Vejo outros sapos repugnantes. Vejo todo tipo de animais... topeiras, asnos, canta-galos, abutres, corvos, (...), enfim: homens. Mas ao final saem todos satisfeitos, saem calmos de lá, leves. Saem para mostrar a vida que não têm. Para sobreviverem do fato de não serem competentes para terem um relacionamento digno.

E você se espanta por eu ter essa consciência? Meretrizes pensam, sonham, analisam, vivem. E às vezes exigem. Pergunta então porque eles fazem tudo isso ? hummm ... Porque são mais baratas que psicólogos?!!

Lavo-me ansiosa, mas não é porque tenho outro horario marcado. É porque um cafajeste deixou meu leito, e ainda está quente. E voltou para a sua vida de falsidades... Pobre coitado!

A profissão não é das melhores, mas existem aquelas que atendem vip's. Sou mulher de princípios! e um deles é sempre livrar-me de qualquer resquício daqueles que não valem nem mesmo a roupa que vestem. Chegam em casa, atuam num palco como dignos e moralistas. Reprimem as atitudes alheias, chamam a atenção do menino que na escola pegou nas nádegas da colega e fora advertido, mas se riem por dentro. E proibem a menina de usar roupas curtas e de namorar no carro... Medo de que? Delas gostarem de fazer aquilo que eles também gostam. Brigam com as mulheres, aquelas inúteis de cama e de casa. Repreendem-nas porque gastaram dinheiro com futilidades de beleza... mas se esquecem de terem gastado seu dinheiro com as futilidades masculinas. Com o prazer comprado. Como são infelizes e vivem uma vida patética ao lado de quem apenas querem distância...

Lavo-me, para deles não restar nenhum cheiro.
São repugnantes! Mas tenho que sorrir quando voltarem
Faz parte do teatro.
São os ossos do ofício.
Pathétiques!!!!

Consumo-te, consuma-me

O consumismo reina,
A comodidade impera!
Querem apenas usar-te
Nada mais interessa

Copos são descartáveis
Pratos se usam uma só vez
Flores cresciam num vaso
Hoje no papel por uma hora, talvez
E o romantismo? só até perecerem!

Chinelos são descartáveis
Shampoos na medida de um banho
Perfume se experimentam em gotas
Comida? embalada pra um

Na vivenda do consumismo
Tudo perde o valor duradouro
Valem somente o momento
Pessoas? usam-se numa sexta de noite,
passam horas, no máximo no sábado
São amassadas e jogadas no lixo.

É o consumismo.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Frase vista em Maringá - Exposição de arte.

"Sempre pensei que pai e filho eram bonecos de propaganda de margarina. Mas me enganei. O meu pai é uma camisa, e dentro dela caibo eu e os meus sonhos"

quarta-feira, 10 de março de 2010

Performance Póstuma

Faces em chama
sopro sem força
som sem vida saem sem graça
Faltou o devido empenho
Faltou decidir-se com vontade
Espera nascer raízes?

Não, nunca!
Nunca me entregarei!
Haja o que houver, nem que seja
o último suspiro.
Chega de desculpar-se consigo
Trabalha.
Ora.
Cria.

A porta que separa

Toc, toc, toc

Quem bate?

Sou eu, seu grande amor!

Nossa, que demora...

Abra a porta. Ainda pensa em mim?
(silêncio)
Recorda o olor de minha pele?
Acaso esqueceu-se dos meus lábios?
Porque o silêncio?

Psiu!!!! Estou aspirando inebriado
e recordando o calor quente do beijo
Para quando eu abrir a porta
não confunda o sonho com a realidade.

terça-feira, 9 de março de 2010

Crepúsculo

A noite chegou mais cedo,
escureceu de repente,
tudo emudeceu...
Mas se vc segurasse
para sempre minha mão
o céu se abriria em eterna flor!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Um Passo para começar

Preciso de um passo para começar
nenhum paço vale os meus pés no caminho
Todo dia a gente se engana
Todo dia é um constante recomeçar

Quando se sente que tudo está revirado
Quando o mundo parece parar
Quando o coração parece pifado
Eu lembro de quando era criança

Corria sem eira e sem destino
Sonhava com o futuro encantador
E ele era tão mais profundo que hoje
Era bom ser o menino caçador

Hoje vejo muita coisa ruir
A areia foge da minha mão apertada
É forçando mais que se perde
Estou longe da minha história encantada

Ah se eu pudesse ser menino
Com o futuro inteiro de sonhos
Eu correria pelos campos
Eu te daria um mundo até os punhos

Mas lá fora os trovões me acordam
O menino vive apenas na lembrança
A liberdade toda que eu sonhava
Não é tão livre e não há fiança

Preciso de um passo pra começar
aprender andar sem ser com você
Se fosse menino ia correr e gritar
Mas o adulto em mim apenas se cala

Você não é mais o mesmo você.

sábado, 6 de março de 2010

O presente

A vida é efêmera. Hoje pude notar essa afirmativa de uma maneira bem ímpar. Pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem. Algumas saltam de um ciclo para o outro, e o porquê, a gente ainda não tem resposta.

Hoje vi a mãe e o irmão do meu vizinho falecido no seu apartamento para verificar causas de um problema de infiltração com o síndico. E pensei comigo mesmo: a gente vem nesse mundo, atua como se atua num palco, num espetáculo e, em algum momento temos o final do show. O fim de nossa vida, pelo menos nesse tempo e espaço.

Lembro-me ainda de toda a vitalidade do vizinho, de sua tranquilidade, do cuidado e amor com o seu filhinho criança ainda. Lembro-me que ele também trabalhava muito em seu consultório, e o via, às vezes, chegar tarde em casa. Nunca vi festas ou diversões em seu apartamento, só mesmo o silêncio e a sua cortesia constante de nunca ter causado incômodo aos demais condôminos.

E hoje, um mês após seu falecimento me surpreendi pensando na vida deste homem que nunca conheci além dos bons dias de corredor e das boas noites na garagem do prédio. Era novo ainda, e foi acometido por uma doença incurável que corroeu-lhe as entranhas e tirou-lhe a vida em questão de poucos meses. Quando soubemos do seu relativo sumiço descobrimos também que ele estava em seus últimos dias e em menos de uma semana já não estava mais aqui neste plano.


É uma pena que alguns saltem os ciclos naturais da vida e, ainda muito cedo, retornam ao plano espiritual. E isso me fez pensar sobre os momentos em que, diante de algumas dificuldades que nós mesmos criamos para nós, impedimos que naquele momento pudéssemos degustar da vida tudo o que ela poderia nos oferecer, com uma alegria e satisfação próprias daquela hora, daquele momento.

Nunca uma situação é igual a outra, nunca um sorriso é igual ao outro, nunca um bom dia é igual ao outro, nunca um beijo, mesmo após mil beijos, será igual ao outro. Porque existe uma corrida do tempo, minuto após minuto. E o minuto que esquecemos de viver intensamente não voltará mais. Virão outras centenas ou milhares de minutos, mas nunca aquele que deixamos para trás.

É por isso que devemos fazer de cada momento em nossa vida um instante importante. Viver da melhor forma aquele minuto, aquela hora, aquele dia, aquela época. E viver não significa passar despercebido os minutos. Viver não significa apenas passar pelo tempo. Isso não é viver, é passear. Ter a consciência de que o tempo de ser feliz, o tempo de amar, o tempo de sorrir e de agradecer por tudo é agora. Porque nenhum instante ou momento futuro é digno de ser mais importante que o tempo atual.

Temos a falsa sensação de que dias melhores virão. De que seremos felizes quando, num tempo futuro, alcançarmos determinados projetos, quando um Ser-tempo-futuro permitir como num passe de mágica atingirmos o instante de ser feliz. Lançamos sempre para frente a nossa felicidade, condicionando-a a fatos futuros, à circunstâncias que ainda irão se concretizar, ou que no plano de nossas idéias poderão ou não vir a se tornar realidade.

O momento de decidir é agora, o momento de sorrir é agora, o momento de se dizer com toda sinceridade um "eu te amo" é agora. O momento de se casar ou descasar é agora, o momento de sermos felizes é este exato momento. Precisamos deixar de criar tantas expectativas para o momento futuro. Mas isso não significa viver treslocadamente sem pensar adiante, mas sim não jogar toda a responsabilidade de bonança, felicidade, realizações e conquistas para o pós presente.

Não sabemos o quanto de futuro temos pela frente, não temos nenhum controle sobre ele. Mas temos o controle do nosso tempo presente, do agora, e podemos fazer dele o melhor instante para realizações e conquistas. Então, viva! Viva intensamente o presente, e deixe que o futuro venha, e se vierem realizações, aceite-as como um lucro, sempre como um plus do nosso momento presente.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Mãos não são apenas mãos

Minhas mãos querem tocar-te
Teu toque manso e leve
Mãos que deslizam por mãos
São mãos, finas e delicadas mãos

Há Mãos que podem ser perversas e outras de se enternecer
Há Mãos que dizem adeus e mãos que impedem partida
Há Mãos que tiram vidas e mãos que aparam o novo ser
Há mãos que afastam tudo e mãos que se acolhem vivas

Minhas mãos querem as tuas
Tuas mãos ainda inquietas
Mãos que esperam pacientes
Por horas eternas em festa

Há mãos que apertam e matam e mãos que matam de apertar
Há mãos que seguram mãozinhas e outras que as deixam sozinhas
Há mãos trêmulas e velhinhas e mãos jovens tão mesquinhas

Tuas mãos seguram as minhas
E abrigam todos meus sonhos
São sonhos lindos, Dorinha
Sonhos de uma vida inteira, sonhos!

Minhas mãos esperam as tuas
Para apertar-te contra meu peito
Na acolhida de uma nova vida
Ah mãozinhas, não me percam!

Mãos, felizes e entrelaçadas mãos
Mãos falam mais que mil palavras
Mãos agem mais que um batalhão
Mãos seguram o mundo, o meu mundo em suas
Mãos...