domingo, 2 de maio de 2010

Velhos tempos, saudades...

Cheiro de fogão à lenha e Sabiá gorjeando no quintal
Um mormaço quente no sertão dá sono.
Há uma rede na varanda à minha espera.
Faz um barulho dos bois lá ao longe
misturando-se com o rulhar das rolinhas ciscando no quintal.
Uma casinha simples com chaminé e telhas escuras de fumaça
Tem um bule sobre a pia, e um filtro de água no canto.
Uma penumbra na casa e as janelas fechadas por causa da poeira no vento de agosto.
Na mesa de madeira rústica um oratório com a Virgem e o cheiro do café saindo do bule.
Nas paredes tortas e envelhecidas tem panelas, tudo limpinho, organizado e simples.
E quadro do Divino na parede, para lembrar da oração.
Da oração por chuva, por colheita boa... por uma vida amena.
Olho para longe, e vejo sobre a terra um trepidar do vapor
que
mais parece miragem no deserto, chão seco.
O céu azul e limpinho, sem uma nuvem, nem uma esperança de chuva.

Lá adiante galhos retorcidos com alguns espinhos
e as cascas grossas das árvores nanicas.

Sinto saudades do sertão e do dia longo,
da vida pacata e das noites de lua cheia,
do céu de mil estrelas e do breu no meu quarto.
De pensar no mundo, que terminava ali no horizonte
da vida simples do sertanejo.

Hoje vejo janelas, olho mais pro alto e vejo gente
atarefadas em suas caixinhas de fósforo.

Luzes acesas por todos os lados.
E gente conversando o tempo inteiro

O céu é longe e distante, as estrelas se apagaram pela metade.

O mundo agora começa além do horizonte, e tem muito mais gente por lá...
A cafeteira me sobressalta com sua campainha... Tempos modernos.

Velhos tempos, velhos pensamentos...
Saudades. Saudades do que nunca vivi.

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