domingo, 30 de maio de 2010

Epopéia

Deito em meu leito vazio
Passando por noite cigana
Que faz-me vagar sem rumo
Enquanto o corpo descansa

A alma vaga ao encalço
daquilo que nem eu sei
Mas que meu coração quer
um corpo além do meu

Um calor que seja real
Não aquele que sempre sonho
Pois o quarto parece grande
Escuro, vazio quase mortal

Quisera sonhar acordado
E com sofreguidão abraçar-te
e não acordar quando te olho
no fundo dos olhos e sorrio

Vai, resolve-te a ti mesmo
Mate o seu dragão alado
E derrube todas as muralhas
A minha força vô-la dou
Não é muita, é o que tenho

Após sua vitória heróica
Celebraremos juntos com rosas
aquelas brancas da paz
Que selará nova história
A nossa nova história

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Grão de areia

Sentado no breu da noite
sob escuro que recobre a visão
sob as horas que impiedosas se vão
Trazendo consigo um silêncio sepulcral

Ali vejo a vida passar como um filme
Onde sou o ator principal
Mas o estranho é que vejo a mim mesmo
Ou aquilo que sobrou do normal

Fecho os olhos e vejo risadas
Escuto meu corpo bailando no ar
Os sentidos estão todos confusos
Caiu tudo. Folhas secas no chão.

Quero voltar a sorrir como antes
Quero rodopiar sem pensar em parar
Ao deitar ter um sono divino
E levantar sem ter nada a pagar

Quero aquela tranquilidade eterna
E o poder de ser quem eu quero
De não mais figurar como etéreo
diante dos outros quem não sou.

O que sou? sou eu mesmo...
Sem precisar fingir pra viver
Sem precisar mentir pra ganhar
Sem precisar me vender para ter

Sem amofinamento no ser: sou no fundo a verdade
Um grão de areia na praia a singrar
Insuficiente para reter o oceano
Mas em minha pequenês me levanto
e me lanço vorazmente nas águas do mar!

O Jardim das Borboletas - Mário Quintana

Com o tempo você vai percebendo que para ser feliz com outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela.
Percebe também que aquela pessoa que você ama ou acha que ama, e que não quer nada com você, definitivamente, não é a pessoa da sua vida.
Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.
O segredo é não correr atrás das borboletas...é cuidar do jardim para que elas venham até você.
No final das contas, você vai achar, não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

domingo, 23 de maio de 2010

Quarto vazio não incomoda
Casa vazia até faz bem
O mundo lá ao longe e quieto
Só um lugar vazio me incomoda
O coração solitário e sem noticias

Quisera que o vento dissesse
Que te vira sob as árvores
e que seu olhar ao longe no céu
Contemplava o azul mesclado
Sem as náuseas do dissabor diário

Assim depois do aviso preemente
ao galope incessante partiria deveras
pra ao longe olhar-te com a ternura
de quem beija o retrato e relembra
do amor que eternizou aquela cena

Nem precisaria tocar-te
Porque seria impossível tal proeza
Olhar-te-ia sem pressa, mas seria uma pena
Que não pudesses me ver ali diante de ti
Pois seus olhos não veriam tal como sou

Agora, cá deste lado, tudo parece mais claro
Entendo tudo o que passamos, e o porquê
Não era pra ser assim...
Agora minhas mãos não te tocam
Nem sentes meu beijo demorado

Que me resta senão esperar
E esperar que te lembres
De quando me abraçavas longamente
E dizias palavras de amor
Que agora não mais as escuto.

O anjo da ternura e paciência me proteja
Posso ir ao teu encontro de uma forma diferente
Mas teria que esquecer de tudo e partir do nada...
Então recuso a oferta, e agradeço... mas fico.
Só pra te ver um segundo a mais.

sábado, 22 de maio de 2010

Samedi

Samedi à la nuit
J'aime la lune dorée
Tu ne suis pas ici
Tu ne dites pas pour moi rien
Seulement le cri des grenouilles
Rien plus, rien pour ma coeur dans pause

Tu seulement silente, dans leurs actes statiques
Et sa vie paisible, dans son aquarium protégé
Rien fais... rien parles... rien decidés..
sans vie quelques-unes
J´adore la lune
Parce que elle parle pour moi tout ce que je veux entendre
J´aime la lune dorée

Páro um instante

Páro por um instante meu mundo corrido
Onde está o amor que procuro?
Estou passando tão rápido por essas estradas
Que nem tenho tempo de olhar além da janela
Alguém sorriu para mim? Algum aceno sincero?
Algum suspiro fundo? Alguém sem coragem?
Não sei, não deu tempo de ver tamanha a pressa
Corro para o futuro, mas lembro do passado
lembro de quando o ir adiante era um desejo incessante
um prazer desejar ser adulto, ter um trabalho seguro
Hoje, lembro dos sonhos encantadores de criança
Sonhos mil, que nem lembro de todos... tamanha a pressa.
Preciso parar esse trem, preciso respirar o ar puro
E fazer deste instante o meu presente e futuro.

sábado, 15 de maio de 2010

Só não pode parar

Sob meus dedos letras para o mundo
Sob meus olhos mais um texto pueril
Quero não só escrever, mas também remexer
Remexer nas entranhas do mundo,
revirar o que o faz retorcer,
acender o pavio molhado.
Ter a certeza que alguma coisa mudou
E as palavras não foram perdidas no ar...
Quero fazer repensar, transpirar, chorar, amar e odiar
Só não quero que seja apenas um texto
Sem significado, sem sonho, sem conteúdo.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Se quiser falar com Deus

Se quero ouvir a voz de Deus, devo calar a minha voz
E escutar em meu coração as verdades que em mim gritam.
Pois de nada serve a minha autopiedade e autocompaixão
Sem deixar-me um pouco de lado e ouvir aquilo que nem sempre quero ouvir.
As palavras divinas são como lanças que cortam fundo.
E mesmo quando fingimos não ouvi-las, com o tempo, suas chagas
reabrem em nosso peito, e fazem-nos pensar sobre elas pela dor.
A melhor escolha então é não resistir. E entregar a direção a Deus,
e confiar que sua intervenção será eficiente.
Ouvir o nosso interior, mais do que ouvimos as pessoas ao nosso redor
os conselhos dos outros, as experiências de algures.
Assim, tenho esperado paz e libertação das cadeias que me prendem.
Mas principalmente entendimento, para poder compreender a voz de Deus em minha vida.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Pro fé e Cia

Tuas mãos são sujas
Tuas intenções malfadadas
Olha nos olhos e mente sem pudor
E enganas quem te esperas

Falas que não fez quando fez
Juras que nunca teve quando teve
Prometes o que não podes cumprir
E ainda ri-se por dentro por enganar

Saibas que engana-te a ti mesmo
E corrói as tuas próprias entranhas
Dentro de ti há uma serpente velada
Que traçoeiramente há de morder-te o calcanhar

Tenhas pudor ao mentir
Tenhas verdade a falar
Tenhas amor aí dentro, contigo
Carregue coragem de mudar

Pois sentirás a destruição iminente
Vermes a corroer-te a alma
E deitar teu corpo sem vida
Num terreno hostil sem regresso

A chama da verdade tudo cura
E para sobrevivê-la é preciso crepitar
Renascer como fênix para um novo sol
Recomeçar novo ser: livre da corrupção.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Irmão dos minutos, filho das horas.

Esquecer é um exercício
Que deve ser arduamente treinado
Porque coisas existem que merecem ser esquecidas
Pessoas há que prescindem de serem lembradas
Em especial aquelas que se sentem donas do tempo
E chamam os minutos de irmãos e as horas de mãe
E colocam o tempo ao seu favor, preterindo os outros
dos mesmos minutos e horas.
Esquecer tem que ser minuto a minuto
Porque o esquecimento tem que ser lento para ser real
Cada dia temos que entrar nesse exercicio.
Estou em um deles, talvez o mais difícil de todos
O esquecimento de uma etapa de vida, de fatos intensos
Que não foram adiante.
Compensa esperar? ou a espera é apenas uma espera?
Questionamentos fazem parte do exercício.
Tenho muitos deles.

De noite no mato

Um pirilampo no escuro zagueia
grilos saltam de um lado para o outro
o pio da coruja torna a noite inquieta e sombria.
As folhas das palmeiras balançam como se chovesse.
No escuro tudo é mundo, tudo é incerto e cauteloso.
Qualquer ruído na palha do chão faz o coração bater acelerado e os olhos como faróis à procura de um vulto. Não sei se é melhor vê-lo ou imaginar que não foi nada.
Ao longe, em meio aos altos galhos passa uma fresta de luz da lua.
É Lua cheia. Causos existem sobre lua cheia. Vou parar de pensar neles.
Passa um morcego bem razante, tirando o pouco de tranquilidade de se andar .O barulho surdo da floresta à noite, misturado com todos os sons irreconhecíveis cria uma atmosfera bucólica e fantasmagórica...
Tenho que atravessar logo o escuro para chegar do outro lado
mas as pernas não se movem... Estou imóvel, esperando que talvez a noite acabe.
Faz pouco tempo que o sol se despediu... não tem jeito, é fugir do medo ou enfrentá-lo até o fim... Para fugir tenho que correr... para enfrentar tenho que ficar.
Que impasse, o coração saltitante não tem muita força pra decidir...
Vou pegar uma carreira e só parar quando tudo acabar...
O que pode acontecer? porque o escuro nunca é seguro?
Vai, vai, vai! árvores prenhes sussurram inoportunas.
Um bater de asas me faz sentir um frio na barriga e seca a boca!
Porque é tão difícil mover-se?
Vou contar até cinco... não não, até dez porque uso as duas mãos e ganho tempo pra
decidir se corro...
Um ladrar de cachorro ao longe, no meio da mata... que será? caçadores? ou estão no encalço de alguma fera?
Um, dois, três.... Valei-me Nossa Senhora do bom parto!
Mas não estou na hora do parto! Ah... foi a única que lembrei no momento, não tenho tempo para lembrar dos outros nomes...
Pego uma folha de figueira... se cair virada para cima eu corro...
Será que ao final daquela trilha vou chegar numa casa?
Ai meu Deus, alguma coisa está se movendo no mato...
É agora ou nunca... E se eu subir nessa árvore?
Onça também sobe... onça, tatu-peba, Saruê, chupa-cabra...
Rezo uma ave-maria... se rezar o rosário vale mais?
Um, um e meio, dois...
Que engraçado, tá mais fácil enxergar adiante...
Porque será? Penso na noiva, e até na filha da rainha Luzia...
será se ele existia mesmo ou era coisa daquela cobra doida?
Agora vejo mais longe... as vistas estão melhorando?
Não... eu acho que... acho que...
Caí de sono e tensão.
Amanheceu com raios vermelhos o céu do sertão.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

De agora em diante

Falar de quê?
Falar pra quê?
Falar por que?

Já falamos tanto
Já brigamos tanto
Já pensamos muito
E voltamos tudo

Basta só chegar
Sentar e se olhar
Nada precisa falar
nem preciso dizer
Só me interessa o agora
o agora daqui adiante.

O menino que queria ser um pássaro

Quando eu era menino eu brincava de pássaro
Corria pela casa com um lençol sobre os braços em forma de asas
Passava pelo quintal correndo em disparada, e jurava que se desse
um vento forte eu ia levantar vôo e sair pelo mundo me divertindo lá do alto...

Hoje não brinco mais de pássaro. Mas a vontade não passou...
Cresce a vontade de sair por aí pelo mundo voando, voar desse lugar inóspito que é a vida humana moderna.

Tem hora para tudo! hora para acordar, hora para trabalhar
hora para almoçar, hora para voltar para casa e hora para dormir...
Só não tem hora para voar e sentir o gozo das pequenas coisas...
Assim, hoje sou um rebelde!!! E sou diferente de todos os outros...
Porque sonho só com o vôo, e para alguns poucos momentos
trabalho, como, volto pra casa e durmo... mas volto voando.
Porque descobri uma coisa agora adulto: Sempre fui um pássaro ao vento!

domingo, 2 de maio de 2010

Velhos tempos, saudades...

Cheiro de fogão à lenha e Sabiá gorjeando no quintal
Um mormaço quente no sertão dá sono.
Há uma rede na varanda à minha espera.
Faz um barulho dos bois lá ao longe
misturando-se com o rulhar das rolinhas ciscando no quintal.
Uma casinha simples com chaminé e telhas escuras de fumaça
Tem um bule sobre a pia, e um filtro de água no canto.
Uma penumbra na casa e as janelas fechadas por causa da poeira no vento de agosto.
Na mesa de madeira rústica um oratório com a Virgem e o cheiro do café saindo do bule.
Nas paredes tortas e envelhecidas tem panelas, tudo limpinho, organizado e simples.
E quadro do Divino na parede, para lembrar da oração.
Da oração por chuva, por colheita boa... por uma vida amena.
Olho para longe, e vejo sobre a terra um trepidar do vapor
que
mais parece miragem no deserto, chão seco.
O céu azul e limpinho, sem uma nuvem, nem uma esperança de chuva.

Lá adiante galhos retorcidos com alguns espinhos
e as cascas grossas das árvores nanicas.

Sinto saudades do sertão e do dia longo,
da vida pacata e das noites de lua cheia,
do céu de mil estrelas e do breu no meu quarto.
De pensar no mundo, que terminava ali no horizonte
da vida simples do sertanejo.

Hoje vejo janelas, olho mais pro alto e vejo gente
atarefadas em suas caixinhas de fósforo.

Luzes acesas por todos os lados.
E gente conversando o tempo inteiro

O céu é longe e distante, as estrelas se apagaram pela metade.

O mundo agora começa além do horizonte, e tem muito mais gente por lá...
A cafeteira me sobressalta com sua campainha... Tempos modernos.

Velhos tempos, velhos pensamentos...
Saudades. Saudades do que nunca vivi.

Inverso

Tenho nas mãos uma pena
Sob os olhos um papel
No coração a espera
E no meu corpo o seu cheiro

Queria ter nas mãos o seu corpo
Sob os olhos seu semblante
No coração a chegada
E no meu corpo você...