terça-feira, 4 de maio de 2010

De noite no mato

Um pirilampo no escuro zagueia
grilos saltam de um lado para o outro
o pio da coruja torna a noite inquieta e sombria.
As folhas das palmeiras balançam como se chovesse.
No escuro tudo é mundo, tudo é incerto e cauteloso.
Qualquer ruído na palha do chão faz o coração bater acelerado e os olhos como faróis à procura de um vulto. Não sei se é melhor vê-lo ou imaginar que não foi nada.
Ao longe, em meio aos altos galhos passa uma fresta de luz da lua.
É Lua cheia. Causos existem sobre lua cheia. Vou parar de pensar neles.
Passa um morcego bem razante, tirando o pouco de tranquilidade de se andar .O barulho surdo da floresta à noite, misturado com todos os sons irreconhecíveis cria uma atmosfera bucólica e fantasmagórica...
Tenho que atravessar logo o escuro para chegar do outro lado
mas as pernas não se movem... Estou imóvel, esperando que talvez a noite acabe.
Faz pouco tempo que o sol se despediu... não tem jeito, é fugir do medo ou enfrentá-lo até o fim... Para fugir tenho que correr... para enfrentar tenho que ficar.
Que impasse, o coração saltitante não tem muita força pra decidir...
Vou pegar uma carreira e só parar quando tudo acabar...
O que pode acontecer? porque o escuro nunca é seguro?
Vai, vai, vai! árvores prenhes sussurram inoportunas.
Um bater de asas me faz sentir um frio na barriga e seca a boca!
Porque é tão difícil mover-se?
Vou contar até cinco... não não, até dez porque uso as duas mãos e ganho tempo pra
decidir se corro...
Um ladrar de cachorro ao longe, no meio da mata... que será? caçadores? ou estão no encalço de alguma fera?
Um, dois, três.... Valei-me Nossa Senhora do bom parto!
Mas não estou na hora do parto! Ah... foi a única que lembrei no momento, não tenho tempo para lembrar dos outros nomes...
Pego uma folha de figueira... se cair virada para cima eu corro...
Será que ao final daquela trilha vou chegar numa casa?
Ai meu Deus, alguma coisa está se movendo no mato...
É agora ou nunca... E se eu subir nessa árvore?
Onça também sobe... onça, tatu-peba, Saruê, chupa-cabra...
Rezo uma ave-maria... se rezar o rosário vale mais?
Um, um e meio, dois...
Que engraçado, tá mais fácil enxergar adiante...
Porque será? Penso na noiva, e até na filha da rainha Luzia...
será se ele existia mesmo ou era coisa daquela cobra doida?
Agora vejo mais longe... as vistas estão melhorando?
Não... eu acho que... acho que...
Caí de sono e tensão.
Amanheceu com raios vermelhos o céu do sertão.

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