domingo, 21 de março de 2010

O novo, de novo.

Às vezes chega um momento da vida em que passamos a ter novos desejos e perspectivas bastante diferentes de quando éramos mais novos. Muitas coisas mudam com o tempo. Muitos sonhos são deixados para trás, não porque desistimos deles, mas porque eles deixaram de ter sentido concreto para o nosso momento atual.

Aquela vontade incontrolável de conquistar o mundo vai dando lugar a um outro desejo, o de conquistar o mundo dentro de si mesmo. As epopéias sonhadas vão dando espaço para as lutas internas e o anseio de vencê-las por batalhas brancas, sem sangue, sem pena, sem dor...
Acontecem de repente novos sentimentos. As paixões avassaladoras vão dando lugar a um sentimento tranquilo de cumplicidade e tranquilidade. E a tranquilidade faz aquietar o coração numa inércia quase eterna. Mas nem sempre a inércia segue suas leis físicas, e de quando em vez novas sensações brotam do peito como um vulcão adormecido, e assim explodem laçando de suas entranhas toda sua força transformadora e arrebatadora.

E a vida é assim mesmo.... quando menos se espera aparece uma nova oportunidade, um novo emprego, uma nova casa, um novo carro, uma nova esperança, um novo amor...

É que a coisa fica feia. Não porque é feio amar, mas porque o amor, quando acontece, faz tudo mudar de cor, como uma tela rabiscada de um pintor que aos poucos toma forma as cores transformam o todo numa deslumbrante aquarela de luz e tons.

E aí, o que fazer então? Estávamos destreinados a viver as emoções intensas da adolescência... e agora é uma novidade atrás da outra, sem nem dar tempo pra respirar.

Ouvi um dia alguém dizer que as paixões adultas são muito mais ricas em sentimentos que as pueris. Isso se justifica, em parte, porque a cada ano que passa carregamos conosco uma plêiade maior de sentimentos que se nos cristalizam lapidados por nossas dores e vivências, decepções e conquistas. Assim o amor torna-se maduro, e exige comportamento de pessoas maduras, conscientes de que o momento de intemperança e inconstância já não mais são condizentes com a nova época.

Mas isso não quer dizer que nunca se possa aceitar o novo com a responsável e devida cautela. Viver o novo traz para nós uma inigualável oportunidade de crescimento pessoal, e, refletir qual o melhor caminho a seguir só depende de nós. Se somos covardes, paramos no ponto que nos parece mais seguro. Se somos homens bravios continuamos a andar por esta nova trilha e ver onde ela vai dar. A surpresa da chegada geralmente vale todo o trajeto. E se chegando ao final não for como se esperava, é porque esquecemos de olhar durante a caminhada as pistas do destino para a nossa edificação e engrandecimento.

Quero dizer com isso que mais vale tentar o novo que viver do velho, remoendo com o tempo o pensamento de como tudo teria ocorrido se tivéssemos tido a coragem de ter pegado a estrada e seguido.

As coisas nunca acontecem por acaso em nossa vida, novidades surgem de onde menos esperamos, amores surgem de uma maneira mais inusitada, a vida pode dar uma guinada completa. Esses são os sinais que alertam que devemos deixar nossas crenças e medos e seguir a nova estrada, certos de que toda nossa experiência irá nos guiar para que cheguemos ao final com os braços repletos de flores - os bons sentimentos - colhidos no caminhar.

A vida tem várias formas de se mostrar a nós. Todo dia brota uma oportunidade de crescimento. Todo dia deixamos escapar de nossas mãos uma infinidade de coisas por medo de seguir no novo caminho. O caminho que poderia ser aquele que estamos procurando a tempos e que nunca conseguimos dar um novo passo porque as conquistas que tivemos no caminho anterior se mostram mais cômodas, mais seguras, e não importa se tudo não está do jeito que nos deixa feliz. Entretanto, se não alçarmos à caminhada, seremos corroídos para sempre pela ferrugem em nossa consciência, de termos ficado parados quando o caminho nos chamava a segui-lo.

Tenho vivido novas oportunidades, tenho sofrido e chorado, tenho sorrido e ficado extasiado com o novo... Tenho vencido a batalha da inércia, tenho persistido, tenho me empenhado a não viver com os "se`s" que teimam em querer me fazer parar. Estou de peito aberto pra vencer o lobo do medo e da incerteza. Sei que posso ao final não encontrar tudo o que procuro, mas terei ao menos tentado, sem me assentar na beira do caminho e chorar as mágoas e ressentimentos da vida que já passou.

A vida é um rio, que segue sempre o seu curso sem jamais voltar, ficar preso aos pensamentos do passado é ir contra o fluxo, uma hora vamos nos cansar e acabar morrendo afogados por nossas próprias mãos e imprudências. Segue o rio abaixo, observe as curvas, desvie das pedras, veja o céu azul e imenso sobre sua cabeça, cada queda d'água é diferente e dá impulso pra continuar, desce o rio, e vai aprendendo... Mas nunca pare. Porque senão nunca chegará a lugar algum.

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