La fora ouve-se o mundo. O mundo e seu silêncio barulhento. Carros ao longe zumbem, crianças gritam lá no fundo, um barulho no andar debaixo acusa o movimento de gente. Toca uma música num rádio ao longe, e na construção ao lado o barulho das montagens de andaimes.
Um bem-te-vi grita se mostrando, e o barulho do peito também se imposta.
Penso naqueles que ouvem o nada. Tenho um amigo que nunca ouviu isso.
Os sons. Sons de máquinas, de fábricas, de gente, de bicho. Sons, sons que encantam, sons que irritam. Depende de quem os ouve. Alguem já me reclamou da 9a. de Beethoven, mas ouvia Mc-sei- lá.
Um mundo sem sons é sem graça. Até quando estou no silêncio externo o som interno está há mil por hora. Gosto dos sons. Eles me acalentam, são agradáveis, são amigos.
Propagam a uma velocidade incrível, nem bem se reproduzem e já estão lá dentro de nós, repercutindo, fazendo vibrar as nossas moléculas e dando aquela sensação única e prazerosa de bem estar espiritual.
Escolhi a música como profissão. E viver dela não é um trabalho árduo, é fascinante. Todos deveriam ter o fascínio em fazer aquilo que escolheram para si, e se não foi escolhido por vontade própria, está tudo errado. Puxe urgentemente a cordinha de sinal do ônibus da vida, pare e desça. Isso mesmo, desça porque persistir só levará para um caminho mais distante daquele lugar onde se quer chegar.
O som me encanta. Sons da natureza e sons do cotidiano. Fico horas ouvindo aquele barulho silencioso das cidades à noite. Quando vou para fora dela, no meio da natureza bruta, tenho a impressão de que estou surdo, tal é o silêncio dali. Escutamos o tempo inteiro. Mas nem sempre ouvimos. Ouvir é escutar e compreender, impor-se e integrar-se àquilo ouvido.
Tem muita gente que escuta e não ouve. Tem gente que nem consegue ouvir a si mesmo, e seus desejos mais íntimos. Esse é o som da alma. Ouvir este som é dar um salto para a felicidade.
Tenho o som de músicas e de palavras em minha mente. Foi ouvindo-o que deixei fluir por meus dedos a melodia irriquieta de minh' alma.
Quero ouvir muito mais, sons de vozes macias dizendo sobre os bons sentimentos, sobre a alegria, a ternura e a simplicidade da vida. Sim... a vida é simples, quando ouvimos a nós mesmos e deixamos de ouvir os conselhos do mundo. O que é correto para o mundo, nem sempre nos traz tanta felicidade quanto ouvir o nosso sonho/som interior.
É por isso que amo o som. Porque tenho a chance de ser eu mesmo quando todos são apenas uma massa una a tocar uma nota só.
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