sábado, 6 de março de 2010

O presente

A vida é efêmera. Hoje pude notar essa afirmativa de uma maneira bem ímpar. Pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem. Algumas saltam de um ciclo para o outro, e o porquê, a gente ainda não tem resposta.

Hoje vi a mãe e o irmão do meu vizinho falecido no seu apartamento para verificar causas de um problema de infiltração com o síndico. E pensei comigo mesmo: a gente vem nesse mundo, atua como se atua num palco, num espetáculo e, em algum momento temos o final do show. O fim de nossa vida, pelo menos nesse tempo e espaço.

Lembro-me ainda de toda a vitalidade do vizinho, de sua tranquilidade, do cuidado e amor com o seu filhinho criança ainda. Lembro-me que ele também trabalhava muito em seu consultório, e o via, às vezes, chegar tarde em casa. Nunca vi festas ou diversões em seu apartamento, só mesmo o silêncio e a sua cortesia constante de nunca ter causado incômodo aos demais condôminos.

E hoje, um mês após seu falecimento me surpreendi pensando na vida deste homem que nunca conheci além dos bons dias de corredor e das boas noites na garagem do prédio. Era novo ainda, e foi acometido por uma doença incurável que corroeu-lhe as entranhas e tirou-lhe a vida em questão de poucos meses. Quando soubemos do seu relativo sumiço descobrimos também que ele estava em seus últimos dias e em menos de uma semana já não estava mais aqui neste plano.


É uma pena que alguns saltem os ciclos naturais da vida e, ainda muito cedo, retornam ao plano espiritual. E isso me fez pensar sobre os momentos em que, diante de algumas dificuldades que nós mesmos criamos para nós, impedimos que naquele momento pudéssemos degustar da vida tudo o que ela poderia nos oferecer, com uma alegria e satisfação próprias daquela hora, daquele momento.

Nunca uma situação é igual a outra, nunca um sorriso é igual ao outro, nunca um bom dia é igual ao outro, nunca um beijo, mesmo após mil beijos, será igual ao outro. Porque existe uma corrida do tempo, minuto após minuto. E o minuto que esquecemos de viver intensamente não voltará mais. Virão outras centenas ou milhares de minutos, mas nunca aquele que deixamos para trás.

É por isso que devemos fazer de cada momento em nossa vida um instante importante. Viver da melhor forma aquele minuto, aquela hora, aquele dia, aquela época. E viver não significa passar despercebido os minutos. Viver não significa apenas passar pelo tempo. Isso não é viver, é passear. Ter a consciência de que o tempo de ser feliz, o tempo de amar, o tempo de sorrir e de agradecer por tudo é agora. Porque nenhum instante ou momento futuro é digno de ser mais importante que o tempo atual.

Temos a falsa sensação de que dias melhores virão. De que seremos felizes quando, num tempo futuro, alcançarmos determinados projetos, quando um Ser-tempo-futuro permitir como num passe de mágica atingirmos o instante de ser feliz. Lançamos sempre para frente a nossa felicidade, condicionando-a a fatos futuros, à circunstâncias que ainda irão se concretizar, ou que no plano de nossas idéias poderão ou não vir a se tornar realidade.

O momento de decidir é agora, o momento de sorrir é agora, o momento de se dizer com toda sinceridade um "eu te amo" é agora. O momento de se casar ou descasar é agora, o momento de sermos felizes é este exato momento. Precisamos deixar de criar tantas expectativas para o momento futuro. Mas isso não significa viver treslocadamente sem pensar adiante, mas sim não jogar toda a responsabilidade de bonança, felicidade, realizações e conquistas para o pós presente.

Não sabemos o quanto de futuro temos pela frente, não temos nenhum controle sobre ele. Mas temos o controle do nosso tempo presente, do agora, e podemos fazer dele o melhor instante para realizações e conquistas. Então, viva! Viva intensamente o presente, e deixe que o futuro venha, e se vierem realizações, aceite-as como um lucro, sempre como um plus do nosso momento presente.

Um comentário:

  1. Bonito e sensível texto, gostei. Passe a fazer essas crônicas, com as observações suas acerca do cotidiano. Não fique só na poesia, a prosa também é uma forma de manifestar sensibilidade e observação. Wil.

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