domingo, 1 de agosto de 2010

A donzela e o dragão

Quando a luz se apaga e os olhos não mais se vêem

Quando o final chega antes mesmo do começo

Quando enfim a vida não permitiu o romance

É hora de reviver o tempo bom, sem nostalgia aparente

Há almas que nascem entrelaçadas, e outras que se entrelaçam aqui

As que já nasceram assim permanecem unidas na vida e além dela

As outras se o destino já se decidiu por elas não há o que tentar, perda de tempo

Porque mais forte que o amor, só o destino.

E o destino? Desdenha, desentranha, derrama, denigre...

Ri-se da luta sem futuro, da dor da desventura, dos desencontros

Foi assim que um dia de tarde viu sua vida passar diante os olhos

E percebeu que o destino tinha agido antes de si... e que já era tarde.

Ele agiu sorrateiramente, e deixou bem claro que mudanças não são bem vindas

Porque elas causariam dor, desenlaces, tristeza e enfim um renascer

Há quem não suporta a idéia de renascer... contrariando o fluxo normal da vida

Como um bebê a fugir do aconchego do ventre para a incerteza do mundo

Como uma lagarta deixando a pele e virando borboleta

Como o botão de rosa a transformar-se na exuberante flor.

Hoje sou cético. Não espero mais o amor dos contos de fadas...

Eles são de lá, e lá ficarão eternizados como ideário de ventura

Não tocará aquela música perfeita no momento do beijo

Nem quando num jardim de primavera andarmos de mãos dadas

Muito menos quando estivermos distraídos na rua e derrubarmos as coisas daquele ser divino! Balela! Isso já te aconteceu alguma vez? Cenas de estúdio eternizadas.

De repente o mundo se viu cheio de covardes. Não existem mais

os corajosos que matam dragão pela princesa, nem a princesa que deixa o luxo

para viver com o plebeu numa casinha no campo... Os tempos mudaram...

Ou pelo menos, essas almas valentes mudaram de planeta...

Agora, os últimos cavaleiros capazes de matar o dragão são raros... fracos, esguios.

Escrevem poesias, romances e contos... Porque já não há mais princesas

Para salvar da besta alada. Elas preferem a comodidade de sua torre, e sua chapinha quente. Porque o amor verdadeiro já virou mercadoria, e o bem estar físico essencial.

E o que dizer da paz interior... do frio na barriga... e das pernas bambas ao ver o seu grande amor?

Antidepressivos, antiácidos e tornozeleiras resolvem. Nada mais. E viva o dragão!

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