quinta-feira, 29 de abril de 2010

Fazer seguir

É difícil fechar a porta
Quando se quer escancará-la
É difícil fechar o livro
Enquanto a história não acaba
É difícil passar a borracha
quando a escrita já está cravada
É difícil andar sorrindo
quando no peito só há choro
É difícil olhar pra frente
enquanto te pressinto atrás de mim
É difícil seguir a vida
Enquanto me engano que me amas.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Coração Andarilho

Estou farto da espera
Farto da demora
Farto da estrada
Farto de onde moro

Quero saltar desse bonde
Sair andando sem rumo
Pois os trilhos só me levam
Pr´o mesmo lugar donde vim

Agora faço meu caminho
sem pensar onde vou indo
Espero que o acaso ocorra
num palácio ou na masmorra

Tanto faz se vai ser triste
Preferível é a alegria
Mas se saio desses trilhos
Sou autêntico e irrestrito

No caminho terá curvas
retas longas e descidas
e em alguma encruzilhada
plantarei a minha vida

Estou farto da mesmice
Farto de palavras sem vida
Das que prometem e nada cumprem
Essas falas já não iludem

Só olharei ao redor
para ações silenciosas
Muito barulho nada produz
O teu caminho eu sei de cór.


Se nada novo tens a dizer
melhor seria que se calasse
Pois o bis já é nefasto
Mas novidades são bem vindas

Siga a mesma estrada de antes
se quiser ficar em círculos.
Mas não espere que a minha
orbite neste caminho infame

Pois caminho é pra caminhar
não pra ficar na estrada à margem
Dou alô e vou embora
Para os que ficam à lamentar

Levanta a cabeça e seja homem!
Venha junto corra e canse
Ficar parado parece bom
Mas o coração é navegante!




segunda-feira, 26 de abril de 2010

Vento da Mudança

Olha o vento da mudança no rosto
Sopra num frio que dói
Corta os lábios e gela o peito
Corro sem casaco no frio

O vento congela meus braços
e tira a força das mãos
Minhas pernas parecem pesadas
O que desejo é só uma lareira

Agora não tem mais jeito
resta correr para ficar vivo
O frio pode até me atrasar
Mas não vai me deter

Por que tem uma força de dentro agindo
Um calor que move rumo ao infinito
Não posso ser mais como sou
O vento da mudança me consome

É correr ou morrer
Eu decidi correr.
Eu corro, e não olho para trás
Porque a mudança sempre deixa marcas

Correndo venço o frio desolador
Porque sei que ficar parado só me mata
E decididamente tenho muito a viver
Posso colocar mais lenha na lareira?

domingo, 25 de abril de 2010

De Sarah Westphal

"Pros erros, há perdão;
pros fracassos, chance;
pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.
O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você, gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Sarah Westphal

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Bracelete noir

Hoje perdi alguém muito importante
Ainda lembro do teu sorriso maroto
Foi de uma vez que nos deixaste
Mas foi na hora certa de cada um
Teu rosto ficará para sempre na memória
E lembrarei de todas as vezes que ele foi sincero comigo
Lembrarei de que abracei-te bastante e com amor
E que o calor do seu peito ainda resiste em viver
Hoje perdi alguém muito importante
Eu mesmo ajudei a levar até seu leito
Olhei bem para guardar o local lindo que escolhi para
te deixar, para que nunca pudesse me esquecer dele
Teu tênis e tuas fotos foram junto, e a souvenir também
E hoje o meu peito chora, tal a dor de tê-lo perdido cedo demais
Lembrarei para sempre dos bons momentos e das gargalhadas
Das correrias do dia a dia que vivenciamos juntos
Dos perigos que também passamos...
Sentirei saudades de tudo.
E quando a saudade apertar muito, levar-te-ei flores
E sentarei ali mesmo, na grama, pra sentir-me ao teu lado.
Como fazíamos antigamente...
Adeus querido, sentirei tua falta. Lembrarei sempre de ti.
(...)
Hoje perdi alguém realmente muito importante.

Momento

Quando duas almas se encontram
E se veem apaixonadas
Pode o mundo cair em mil pedaços
Ou um furacão destruir tudo
Mesmo que elas se separem

e o destino as coloque em caminhos absurdamente opostos
Mesmo que elas nunca mais se vejam
E dessa forma tudo ocorrendo, ainda assim elas jamais serão as mesmas...
Pois só bastou um olhar e um toque
Para uni-las para todo o sempre. . .

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Porta retrato do tempo

Hoje não quero desculpas
Nem justificativas incertas
Quero da vida o sumo do sumo
Quero sorrir para o vento

Hoje não quero cair em ciladas
de palavras doces e imperfeitas
das que jamais se concretizam
Tampouco se realizam no tempo

Hoje quero apenas a verdade
dita por boca sincera
Pois há verdades que cortam
matam mentiras por intento

Quero um amor de verdade
Sem poréns quem-sabe ou talvezes
Sem limitações temporais
num enlace de fatos intensos

Quero que tomes partido
que me descanse o peito sofrido
ferido a face e o espírito
Por tuas incertezas no tempo.

Gira o relógio do tempo
Rodam moinhos ao vento
Correm riachos sedentos
Porque `inda lanças pérolas ao vento?

quarta-feira, 21 de abril de 2010

espera, Espera!

A Espera me encara
Eu olho nos olhos dela
Ela sorri sarcástica
E diz:
_Só quando eu quiser!
Eu olho novamente
Ela continua imóvel
Somos parte um do outro
Então eu digo:
_Só se eu permitir!!!

sábado, 17 de abril de 2010

Passez, passez, mais retournez pour moi

Não temo a morte, ela é esperada
Temo a falta de amor por falta de sorte
Tudo é passageiro, menos ele
Amor durante e após a vida

Uma vida é tão pequena no universo
Um carinho tão efêmero que te peço
Um calor ao meu lado na tarde ardente
À noite, enternecido, um frio desolador

Já não sei o que se passa cá dentro
A espera faz-me apático, sangrento
Que tem mais a vida à mostrar
Porque não se mostra rápido, logo, já!

A mesmice da janela até me dói
Vejo gente formiguinha caminhando
Corre corre dia todo no labor e dorme
N'outro dia mesma coisa sempre morre

Passa carro, passa gente, passa vida
passa filho, passa escola, passa igreja
Passa fome, passa sede, passa dor
Passa o passo, passa tudo, passa menos meu amor

Aujourd'hui je attendre pour toi
Aujourd'hui tu retournes pour moi?
Vous regardez pour ma lune dans la nuit
Ohmm ma petit, quand vous tournerez por moi?

sábado, 10 de abril de 2010

Anti teses

Foi preciso sumir
Para me encontrar
Foi preciso dormir
Para um dia acordar
Foi preciso morrer
Para renascer minha coragem
Foi preciso chorar
para poder aprender rir
Foi preciso correr tanto
para descansar e olhar em volta
Foi preciso perder tudo
para ver tudo o que tinha
Foi preciso o silêncio e o recolhimento
Para ouvir minha voz interior e reviver
Foi preciso ir para bem longe de ti, no outro mundo
Para saber que nunca mais quero te deixar...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Espelho

Mundo que desdobra no reflexo
vidas que passeiam do outro lado
vejo o fundo dos meus olhos e congelo
no espelho vejo o mundo mais perplexo

Tua imagem me parece sorridente
Mas os teus olhos me refletem outro ser
Mil palavras nem sequer traduziriam
coração, mente e queda na areia do deserto

Quarentena, pés doídos, boca seca
Maus pensamentos se excretam com fluência
Mas ordeno Ser das trevas que me deixes
Nada podes contra mim, pseudo ser

O mundo do outro lado é inocente
tem limites com moldura definida
Olho dentro, lá no fundo do espelho
e o que vejo atrás de mim é diferente

O mundo não é o mesmo no espelho
Dentro dele só é visto o que queremos
aqui fora não queremos o que se mostra
Porque dói a realidade descarada

Por isso olho tudo no espelho
Toda a Terra no quadrado da moldura
Olho a pele, vestimentas e o cabelo
Só não vejo mais visíveis pensamentos

O espelho no espelho te reflete mais mil vezes
Multiplica tua vida tua boca teus receios
Põe à mostra aquele quadro no quadrado da tua vida
Se quiseres muda tudo, e vê o novo no espelho

domingo, 4 de abril de 2010

Lá fora a chuva

Gosto de ver a chuva que cai
Sentir o cheirinho da terra molhada
Olhar o horizonte cinzento da chuva
A inevoar a paisagem ao longe

Venho da terra onde a chuva é escassa
Lá, quando chove, muitos vão à janela
Pra ver os pingos fazerem suas ondas
No chão ressequido agora encharcado

A chuva não lava somente as folhas
Ela cai do céu para nutrir a vida
Lava a angústia de dentro do peito
E limpa a dor de não ter-te comigo

Tu disseste: quero ter paz!
Eu nunca ouvi um pedido assim
Mas se sou turbulência aceite as escusas
Lá fora a chuva te lave de mim

Hei de permanecer olhando a chuva
E a gota que escorre lenta no vitral
Gotas que traça seu caminho no vidro
Tem menos encanto que uma lágrima final

Aceite a chuva lavar sua vida
Ela desce de Deus por presente de amor
Molhando a terra e fazendo brotar
A semente ansiosa por germinar

Agora lá fora a chuva é fininha
Já está acabando daqui a pouquinho
Ficarei na janela e na face a brisa
Quem sabe você abra a porta e nada diga
Mas me abrace lavado pela chuva fria.

PROCISSÃO

É sexta feira santa, o povo caminha com os cânticos lúgubres e tristes. No rosto das pessoas vejo uma fé quase que inacreditável. Mulheres sofridas se condescendem com a figura de Maria a acompanhar o seu filho no trajeto da cruz. Cada parada uma meditação da via-cruxis, pessoas chorando e relembrando aqueles momentos tristes, que se misturam também com a tristeza de suas vidas. Não há como separar o imaginário recordatório de suas próprias dores da vida. Aqui e acolá algumas mocinhas com sorriso disfarçado no rosto olham inquietas para os lados como se estivessem à espera de alguém. Homens mais velhos carregam fincos fundos e bem marcados, nos traços do rosto, o sofrimento do sertanejo recém-chegado à cidade, suas mão calejadas seguram estandardes e carregam por horas a fio, pois são bem mais amenas que as enxadas que neste dia ficaram paradas.

O calor arrebatador do sol nos ombros e os olhos quase fechados pela claridade da luz não parece em nada modificar a caminhada daquela gente. Sobem ladeiras por ruas estreitas, irresolutos, a fé em Deus e em dias melhores não dão lugar ao esmorecimento causado pelo cansaço.

Senhoras com terços na mão balbuciam preces quase imperceptíveis durante a caminhada, e até duvido que estejam com plena consciência do que falam. Mais parecem um mantra repetido várias vezes sem nenhuma atenção.

Sigo com eles, e a caminhada faz pensar sobre minha vida. Nas quedas do Cristo, vejo minhas quedas também neste mundo. E a cada “estação” paro um pouco com o meu espírito crítico já solidificado pelos questionamentos próprios.

A Procissão tem um ar mágico, onde cada um carrega a sua cruz de tristezas e vicissitudes para deixa-las aos pés da verdadeira cruz no momento em que o Cristo entrega a sua vida ao Pai Celestial. E assim entregamos nas mãos de Deus tudo aquilo que não temos forças para mudar, assim como não teve o filho de Maria a intenção de muda-las. Pois bem podia, já que era o filho de Deus, mas quis mostrar para o mundo a confiança suprema na vontade do Pai.

Deixo agora o raciocínio lógico para entrar num campo pouco explicável por fenômenos físicos. A fé. Palavra tão pequena mas de um significado que ultrapassa toda a compreensão humana. A fé inabalável que fez mover montanhas, a fé que fez abrir o mar vermelho em dois, a fé de Daniel na cova dos Leões, sem medo e sem arranhões, a fé de Jó após todo o mar de flagelos que pousou em sua vida, a fé de Maria aos pés da cruz, digna e de pé, ao ver morrer aquele filho a quem tanto amou e que presenciou tantos prodígios.

Na procissão, a figura de Maria me comove. Imagino o pobre coração de uma mãe ao ver dilacerada a figura do filho, sentia com ele as dores das quedas e das chibatadas, da coroa de espinhos, mas mantinha-se de pé. Quando tudo confabulava contra sua fé, ela esperava em Deus o alívio de suas dores. E pensava na dor física, mas pouco sabia que os homens iriam matar o corpo humano que personificava o filho de Deus, mas não teriam forças nem competência para matar o espírito. Esse só deixa se corromper pela vontade própria. Mas o Cristo era convicto de sua missão. Não foi corrompido pelos maus pensamentos corporificados pelas ações vis tão comuns em nossos momentos terrestres. Naquele momento deixando o corpo humano, o espírito foi de encontro ao Pai. E Deus na sua infinita misericórdia, ainda antes de segurar a mão do seu filho atendeu mais um pedido dele, quando entregou Maria para ser a mãe dos homens. “Eis aí o teu filho, filho, eis aí tua mãe”. E ela cumpriu a missão, e ainda cumpre até hoje.

Continuo a caminhada, ela cansa, faz suar. Mas acima de tudo faz refletir. E aqueles que conseguem entender esse significado todos os anos têm a oportunidade de deixarem para trás mais um rol de maus sentimentos e tentar fazer-se mais justo e santo. Se queremos ter a paz de espírito que tanto sonhamos precisamos abrir mão de muitas coisas, de comportamentos de apego à coisas que não nos edificam em nada. Abrir mão do medo de sermos justos e verdadeiros perante o próximo e perante Deus. Ter medo de causar sofrimento não justifica sermos impiedosos com o outro, ainda mais quando esse outro nos é importante.

Na caminhada terrestre, como no caminho do calvário, temos quedas, mas precisamos saber levantar com dignidade. Ter atos de bravura espiritual, por mais que essa bravura reflita em nossa vida física. Um homem pode até conseguir dormir por algum tempo quando age com desrespeito e desamor ao próximo. Mas não tem um sono tranqüilo. E mais cedo ou mais tarde esse comportamento irá corroer-lhe as entranhas. Porque carregamos o gérmen da justiça e da verdade, pois somos filhos de Deus, à sua imagem e semelhança. E Deus é justo e desprovido de mentiras e falsidades.

Na caminhada da procissão torcemos para que o Cristo se levante, mesmo sabendo qual é o fim da história, ainda assim nos resta no fundo um desejo de um final mais ameno, e porque não mais feliz para a nossa concepção de homem moderno. Entretanto, esquecemos da nossa própria crucificação aos maus comportamentos. Do nosso apego inconsciente à mentira. Às nossas justificativas falsas pelo nosso comportamento. Enganamos para evitar o sofrimento do outro. Somos falsos e justificamos baseados em situações injustificáveis. Ser justo com o outro depende de sabermos ser justos com nós mesmos. É aí que entra a grande chave da nossa libertação. O amor ao próximo e a verdade.

Na meio do povo penso em várias coisas, e caminhada me faz bem. O sofrimento físico dos pés cansados, a roupa pregada ao corpo pelo suor, o andar ziguezaqueante a relembrança da história de Jesus, me enchem de coragem e determinação para algumas mudanças.

Acho que agora entendo o significado dessa maratona anual. O sofrimento leva a redenção. Passar por entre as ruas e becos apertados faz menção aos momentos difíceis e que nos apertam pelos lados. Subidas e descidas são a nossa caminhada espiritual rumo à eternidade. As quedas são as provações, mas levantar-se é o ato mais digno e importante. Levantar de nossas mentiras, levantar de nossa falta de amor ao próximo, levantar de nosso egoísmo capaz de permitir fazer do outro uma mera peça em nossa vida, sem significado nem valor. Levantar e deixar por terra as falsidades. Levantar e ter o propósito de não mais cair por falta de coragem de se fazer o que é justo.

A falta de respeito e de amor ao próximo faz sermos menos dignos na caminhada. É por isso que nos angustiamos e nos sentimos fracos. A força está no amor e na verdade. É preciso saber dizer não quando necessário. É preciso saber dizer sim quando chegar o momento certo. E o momento certo, para corrigirmos o que está errado em nossas vidas não está por vir. Já está no nosso presente. É agora. Deixar para depois é esquivar-se de nossa responsabilidade como filhos de Deus. Jesus não se esquivou escondendo daqueles que o perseguiam. Encarou a verdade. E foi libertado após o sofrimento. A verdade liberta. E traz a paz que é bálsamo para nossa vida...

É por isso que existe a procissão. Acima de uma demonstração de tradições populares, fazer-se parte dela significa caminhar rumo ao Pai, como fez o Cristo. Agora, entendo esse aglomerado de gente. Todos esperançosos e recorrentes à misericórdia divina para ter coragem de mudar suas vidas...